Onconews - Cuidados oncológicos integrativos para ansiedade e depressão em adultos com câncer

sabrina chagasDiretriz elaborada em conjunto pela Society for Integrative Oncology (SIO) e ASCO traz recomendações baseadas em evidências sobre abordagens integrativas para o manejo de sintomas de ansiedade e depressão em adultos com câncer durante o tratamento ativo e após o tratamento. O guideline foi publicado Journal of Clinical Oncology (JCO)1. “O artigo traz pontos importantes, como a dificuldade de analisar os dados referentes à práticas onde nem sempre existe um padrão em sua execução nos diferentes centros de pesquisa, como por exemplo, a yoga e a meditação”, avalia a oncologista e professora de Oncologia Integrativa Sabrina Chagas (foto).

Para a elaboração das diretrizes foi reunido um painel de especialistas em oncologia integrativa, oncologia clínica, radio-oncologia, oncologia cirúrgica, cuidados paliativos, ciências sociais, medicina mente-corpo, enfermagem, metodologia e representantes dos pacientes. A pesquisa da literatura incluiu revisões sistemáticas, meta-análises e ensaios clínicos randomizados publicados entre 1990 e 2023.

Os resultados de interesse incluíram sintomas de ansiedade ou depressão medidos por ferramentas psicométricas validadas e eventos adversos. Os membros do painel de especialistas usaram essa evidência e consenso informal com as Diretrizes para a metodologia de Apoio à Decisão para desenvolver as recomendações.

Resultados

A pesquisa da literatura identificou 110 estudos relevantes (30 revisões sistemáticas e 80 ensaios clínicos randomizados) para informar a base de evidências para esta diretriz.

A diretriz recomenda intervenções baseadas em mindfulness, ioga, relaxamento, musicoterapia, reflexologia e aromaterapia (usando inalação) para tratar sintomas de ansiedade durante o tratamento ativo. Para o tratamento de ansiedade após o tratamento do câncer, foram recomendadas intervenções de mindfulness, ioga, acupuntura, tai chi e/ou qigong e reflexologia.

Para sintomas de depressão, mindfulness, ioga, musicoterapia, relaxamento e reflexologia foram recomendados durante o tratamento; e mindfulness, ioga e tai chi e/ou qigong foram recomendados após o tratamento.

No artigo, os especialistas também discutem temas como comunicação médico-paciente, disparidades de saúde, comorbidades, implicações de custo, implementação de diretrizes, treinamento e credenciamento de provedores e garantia de qualidade de produtos de saúde naturais. “Embora várias abordagens, como mindfulness e ioga, pareçam eficazes, são discutidas as limitações da base de evidências, incluindo avaliação de risco de viés, não padronização de terapias, falta de diversidade nas amostras de estudo e falta de condições de controle ativo, bem como futuras direções de pesquisa”, observam os autores.

A oncologia em sua versão mais humana e profunda

Por Sabrina Chagas, oncologista, médica da Oncologia D'Or e professora de Oncologia Integrativa na Pós-Graduação de Bases da Saúde Integrativa do Hospital Israelita Albert Einstein 

A Medicina/Saúde Integrativa começou sua trajetória oficial em 1962, em uma Assembléia na República Portuguesa. Ampliou seus passos com a OMS, a Universidade do Arizona, a ONU, e hoje está presente em inúmeros grandes centros de oncologia do mundo, como o MD Anderson Cancer Center, Memorial Sloan-Kettering, Dana-Farber Cancer Institute, entre outros.

Através do Academic Consortium for Integrative Medicine & Health, chegou-se à seguinte definição: "A prática da medicina que reafirma a importância da relação entre paciente e profissional de saúde; focada na pessoa em seu todo; baseada em evidências e faz uso de todas as abordagens terapêuticas e de estilo de vida adequadas, profissionais e disciplinas para obter o melhor da saúde e da cura".2

A medicina integrativa no Brasil não é uma especialidade médica e, em nenhum momento, pretende concorrer com a medicina convencional no tratamento de doenças. Além disso, as abordagens integrativas seguem sempre as diretrizes embasadas em ciência, e é na oncologia onde temos mais evidências sobre sua aplicabilidade.

Sabemos que até 70% dos pacientes oncológicos adotam a medicina integrativa de alguma forma. Porém, a maioria não comunica aos seus profissionais de saúde. Fato que nos preocupa porque sua utilização deve ser orientada por quem conhece todas as suas indicações e contraindicações.

Nesse contexto, sempre que uma nova diretriz é publicada, aprofundamos nossos conhecimentos para acolher de forma mais completa nossos pacientes.

Essa não foi a primeira diretriz publicada e endossada pela ASCO no tema. Temos, por exemplo, outras publicações relacionadas ao manejo da dor3 e abordagens integrativas no tratamento do câncer de mama4.

O artigo traz pontos importantes, como a dificuldade de analisar os dados referentes à práticas onde nem sempre existe um padrão em sua execução nos diferentes centros de pesquisa, como por exemplo, a yoga e a meditação. Por outro lado, a compilação de tantas publicações, nos faz reforçar o longo caminho de embasamento científico que os profissionais que estudam o tema buscam.

Artigos como esse auxiliam na pontuação das diferenças, e nos ajudam a ampliar olhares. Nossos pacientes merecem esse entendimento. São muitos caminhos, para apenas um fim. Uma vida melhor, e não apenas mais longa. Isso é a oncologia em sua versão mais humana e profunda.

Referências: 

1 - Carlson LE, Ismaila N, Addington EL, Asher GN, Atreya C, Balneaves LG, Bradt J, Fuller-Shavel N, Goodman J, Hoffman CJ, Huston A, Mehta A, Paller CJ, Richardson K, Seely D, Siwik CJ, Temel JS, Rowland JH. Integrative Oncology Care of Symptoms of Anxiety and Depression in Adults With Cancer: Society for Integrative Oncology-ASCO Guideline. J Clin Oncol. 2023 Aug 15:JCO2300857. doi: 10.1200/JCO.23.00857. Epub ahead of print. PMID: 37582238.

2 - IM Consortium. https://imconsortium.org/about/introduction/

3 - Integrative Medicine for Pain Management in Oncology: Society for Integrative Oncology–ASCO Guideline. JJ et al. Journal of Clinical Oncology 2022 40:34, 3998-4024

4 - Integrative Therapies During and After Breast Cancer Treatment: ASCO Endorsement of the SIO Clinical Practice Guideline – Gary H. Lyman et al.  Journal of Clinical Oncology 2018 36:25, 2647-2655