Apenas 59% dos centros de câncer ligados ao National Cancer Institute (NCI) e 22% dos centros não-NCI nos Estados Unidos têm um ambulatório de cuidados paliativos integrado à assistência oncológica, como aponta editorial de Neha Kayastha e Thomas W. LeBlanc na edição de abril do JCO Oncology Practice.
Os autores mostram que, apesar das evidências crescentes em favor de cuidados paliativos integrados à assistência oncológica, a prática clínica ainda precisa avançar nessa direção. Entre as barreiras, Kayastha e LeBlanc incluem a própria terminologia. “O termo cuidados paliativos é muitas vezes mal utilizado e mal interpretado como um eufemismo para cuidados de fim de vida ou hospice”, ilustram.
Em uma linha do tempo, os autores destacam a publicação do estudo ENABLE II em 2009 como um dos marcos que impulsionou uma robusta base de evidências sobre os benefícios de cuidados paliativos em pacientes de câncer, incluindo o consagrado estudo de Jennifer Temel em 2010 (Early Palliative Care for Patients with Metastatic Non-Small-Cell Lung Cancer) e os dados do ENABLE III em 2015. Os resultados convergem e “mostram que as intervenções de cuidados paliativos geram melhorias significativas na qualidade de vida e na carga de sintomas, bem como na satisfação do paciente e do cuidador”.
O editorial também relaciona vantagens para o próprio sistema de saúde ao incorporar cuidados paliativos precoces como parte da rotina do tratamento do câncer, como preconizam as diretrizes da National Comprehensive Cancer Network (NCCN), ASCO e ESMO.
“Apesar da última década de evidências crescentes sobre os muitos benefícios da integração de cuidados paliativos, o progresso está atrasado em ambientes do mundo real. Em um estudo retrospectivo realizado em um centro de câncer, menos da metade dos pacientes que morreram com câncer avançado viram um especialista em cuidados paliativos”, descrevem. A análise também mostra que os encaminhamentos ocorreram tardiamente, apenas 1,4 mês antes da morte, com integração ainda pior nas neoplasias hematológicas.
As barreiras envolvem médicos, pacientes e o próprio sistemas de saúde. Entre os oncologistas, por exemplo, ainda existem equívocos generalizados sobre cuidados paliativos, sustenta o editorial. “Estes incluem desconhecer os serviços localmente disponíveis, pensar que os cuidados paliativos são incompatíveis com o tratamento do câncer ou mesmo apenas um eufemismo para cuidados de suporte ou cuidados de fim de vida, além de acreditar que é seu papel sozinho fornece quaisquer cuidados paliativos necessários”, apontam. “Como os oncologistas são os guardiões dos encaminhamentos para cuidados paliativos, essas percepções errôneas reduzem ou atrasam os encaminhamentos”, reforçam os autores.
A íntegra do artigo está disponível em acesso aberto.
Referência: Why Are We Failing to Do What Works? Musings on Outpatient Palliative Care Integration in Cancer Care - Neha Kayastha, MD and Thomas W. LeBlanc, MD, MA, MHS - DOI: 10.1200/OP.21.00794 JCO Oncology Practice 18, no. 4 (April 01, 2022) 255-257.