O oncologista Paulo Hoff, diretor-geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e do Hospital Sírio-Libanês, conversou com Onconews sobre farmacoeconomia. Para ele, além do custo do acesso ao medicamento oncológico, a discussão deve considerar o custo pessoal do paciente e os benefícios da medicação.
Muitos medicamentos oncológicos tem preços impraticáveis para pacientes e sistemas de saúde. Como garantir o fornecimento em um cenário como esse?
Assistimos hoje a uma discussão mundial em termos do custo de acesso. O que está se propondo globalmente é que ao invés de olhar o custo da medicação, que se passe a olhar o valor. O valor é uma equação que leva em consideração o custo financeiro, o custo pessoal do paciente em termos de efeitos colaterais e, essencialmente, o benefício que o paciente tem com determinada medicação. A verdade é que a escalada contínua de preços que se viu na última década é insustentável. Precisamos encontrar uma solução como sociedade que permita que os nossos pacientes tenham acesso às medicações das quais eles precisam. Precisa haver, não só no Brasil, mas no mundo todo, uma ênfase cada vez maior no benefício que se obtém de determinada medicação. Isso é uma realidade.
As visões são muito divergentes?
É uma questão complexa, com múltiplas perspectivas. Essa discussão não está completa, é uma discussão que está aberta e o Brasil é parte dela. Diferentes fontes pagadoras ao redor do mundo têm se ressentido do aumento dos custos, não só o SUS. Também é preciso reconhecer que as margens de lucro das empresas operadoras de saúde têm caído e o aumento do custo de medicamentos é uma das razões desse aperto financeiro que elas começam a vivenciar, o que explica porque essas fontes pagadoras têm naturalmente uma tendência contra a incorporação. Entidades de defesa dos pacientes obviamente têm uma posição completamente oposta, gostariam de ter uma incorporação irrestrita, já que uma vida não tem preço. Vamos ter que achar um denominador comum. Acho que nós, médicos, cientistas e gestores, temos a obrigação de tentar facilitar essa discussão.
Acredita que isso seja possível?
Sou uma pessoa otimista. Eu acho que a concorrência sempre leva a uma melhoria de bens e serviços, com uma queda do custo. Se nós tivermos mais medicações disponíveis no mercado, medicações inclusive que tenham indicação similar, vai haver uma concorrência e o custo vai cair. Isso é fundamental, assim como acho fundamental gerar inovações.
Qual a importância do Prêmio Octavio Frias de Oliveira para o país e, em especial, para a oncologia?
É fundamental que nós desenvolvamos mais medicações. Também chamaria a atenção de que esses trabalhos premiados representam inovações que estão sendo geradas no brasil, que hoje é um grande importador de medicamentos, particularmente de alta tecnologia. É muito importante que a gente reverta esse quadro, e trabalhos como esse podem nos dar esperança de que no futuro a médio e longo prazo possamos testemunhar uma mudança dessa realidade, e quem sabe o brasil possa ser um ator global importante no desenvolvimento e comercialização de novos medicamentos. Finalmente, acho que é importante ressaltar que esses trabalhos também tem como foco doenças locais. Hoje em dia existem certas neoplasias que tem sido negligenciadas em sua pesquisa por não serem de interesse de grandes indústrias farmacêuticas e de outros países que não tem essas doenças como problemas de saúde significativo. Então temos que fomentar a indústria nacional por várias razões.