Renata DAlpino 2017 NET OKEstudo publicado no JAMA Oncology buscou avaliar os preditores de utilização de testes de deficiência do mismatch repair em adultos e jovens adultos com câncer colorretal de alto risco e a não-aderência às diretrizes de testes. A oncologista Renata D'Alpino (foto), coordenadora de Tumores Gastrointestinais e Neuroendócrinos do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e membro do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG), comenta o trabalho.
“Este estudo ressalta a subutilização do teste de deficiência do mismatch repair entre pacientes com CCR nos Estados Unidos, especialmente naqueles mais jovens, quando o risco de HNPCC é maior. A realidade no Brasil pode ser ainda pior”, afirma a oncologista renata D’Alpino. “Além da possível associação com a síndrome hereditária (HNPCC), o conhecimento da presença de deficiência do mismatch repair pode mudar a conduta, especialmente na recomendação do tratamento adjuvante no estádio II, por exemplo”, acrescenta.

A deficiência do mismatch repair pode ser devida a mutações germinativas ou inativação epigenética, afeta o prognóstico e a resposta à terapia sistêmica e resulta no não reparo de repetidas sequências de DNA, o que aumenta o risco de múltiplos tumores malignos. A deficiência de MMR é observada em até 15% dos tumores colorretais esporádicos (CRCs) e é uma característica da síndrome de Lynch, que tem maior incidência em jovens adultos (idade <50 anos) com CRC.

Apesar da recomendação ao uso universal de testes de deficiência de MMR em pacientes com CRC e diretrizes bem estabelecidas voltadas especificamente para populações de alto risco, a utilização geral dos testes ainda é baixa e persiste a subutilização significativa dos testes entre jovens adultos.

O estudo

O objetivo do estudo foi avaliar a utilização de testes de deficiência de MMR em adultos com CRC e analisar a não adesão às diretrizes de testes em jovens adultos usando um conjunto de dados nacionais contemporâneos para identificar possíveis fatores de risco para a não adesão às diretrizes recentemente implementadas.

A regressão logística multivariada foi utilizada para identificar preditores independentes de testes em pacientes adultos e/ou adultos jovens. O endpoint primário foi a realização de testes de deficiência de MMR. O estudo foi realizado entre 16 de março de 2016 a 1º de março de 2017.

Um total de 152.993 adultos com CRC identificados a partir do National Cancer Database foram incluídos no estudo (78.579 [51,4%] homens, idade média [SD], 66,9 [13,9] anos). Destes pacientes, apenas 43.143 (28,2%) foram submetidos a testes de deficiência de MMR; a proporção de pacientes testados aumentou entre 2010 e 2012 (22,3% vs 33,1%; P <0,001). Entre 17.218 pacientes adultos mais jovens com CRC, apenas 7.422 (43,1%) foram submetidos a testes de deficiência de MMR; a proporção testada aumentou entre 2010 e 2012 (36,1% vs 48,0%; P <0,001).

Idade, nível educacional (OR, 1,38; IC 95%, 1,15-1,66), ano de diagnóstico posterior (OR, 1,81; IC 95%, 1,65-1,98), doença inicial (OR, 1,24; IC 95% 1.18-1.30), e número de gânglios linfáticos regionais examinados (≥ 12) (OR, 1,44; IC 95%, 1,34-1,55) foram associados independentemente com o teste de deficiência de MMR, enquanto a idade avançada (OR, 0,31; IC 95%, 0,26 -0,37); Medicare (OR, 0,89; IC 95%, 0,84-0,95), Medicaid (OR, 0,83; IC 95%, 0,73-0,93), ou status não segurado (OR, 0,78; IC 95%, 0,66-0,92); tipo de acessos à pesquisa acadêmica vs não acadêmica (OR, 0,44; IC 95%, 0,34-0,56); localização do tumor retossigmoide ou retal (OR, 0,76; IC 95%, 0,68-0,86); grau desconhecido (OR, 0,61; IC 95%, 0,53-0,69); e não recebimento de cirurgia definitiva (OR, 0,33; IC 95%, 0,30-0,37) foram associadas à subutilização de testes de deficiência de MMR.

Os autores ressaltam a importância de intervenções adaptadas a grupos em risco de não adesão às diretrizes de testes de deficiência do mismatch repair.

Referência: Mismatch Repair Deficiency Testing in Patients With Colorectal Cancer and Nonadherence to Testing Guidelines in Young Adults - Talha Shaikh; Elizabeth A. Handorf; Joshua E. Meyer; Michael J. Hall; and Nestor F. Esnaola - JAMA Oncol. Published online November 9, 2017. doi:10.1001/jamaoncol.2017.3580