A disfunção cognitiva é um efeito adverso da quimioterapia e radioterapia, ainda com limitadas opções de tratamento, como aponta estudo de revisão publicado na edição de fevereiro do Lancet Oncology. Atualmente, não há um padrão único para gerenciar sintomas de comprometimento cognitivo induzido pelo tratamento oncológico. Em pacientes com comprometimento de memória são empregados tanto estimulantes (metilfenidato e modafinil) quanto medicamentos usados em quadros de demência (donepezila, memantina) e até eritropoietina. Para estabelecer com mais clareza o valor dessas intervenções em oncologia, vários ensaios clínicos estão em curso, assim como diversos estudos pré-clínicos.
A incidência de déficit cognitivo em pacientes de câncer com tumores não-SNC varia de 10% a 65% na literatura, de acordo com o método de avaliação, população estudada e regime terapêutico empregado. Resultados de um pequeno estudo longitudinal com pacientes com câncer de mama mostraram que 21% tinham comprometimento cognitivo antes do tratamento com quimioterapia, 65% tiveram comprometimento no curto prazo (3 meses) e 61% apresentaram déficits cognitivos persistente (7 meses) após o tratamento.
Resultados de um estudo maior que envolveu pacientes com câncer colorretal mostrou comprometimento cognitivo em 43% da população avaliada antes da quimioterapia e em 46% dos pacientes 12 meses depois. O déficit cognitivo mais frequentemente descrito está nos domínios da função executiva, memória, velocidade psicomotora e atenção. Os autores destacam que o comprometimento neurocognitivo pode ser tardio e, em alguns pacientes, progressivo, mesmo anos após a cessação da terapia do câncer. Nesta revisão, os autores descrevem que virtualmente todas as categorias de regimes quimioterápicos foram ligadas a vários graus de comprometimento neurocognitivo.
Apesar de fatores individuais, como idade, doença vascular, reserva cognitiva e polimorfismos genéticos, vários sintomas são similares em populações de pacientes, sugerindo que biomarcadores poderiam ser indicativos úteis para a avaliação de riscos. Intervenções não farmacológicas, como meditação ou exercício físico, também foram considerados estratégias úteis.
Em conclusão, o manejo da disfunção cognitiva induzida pela terapia do câncer continua sendo um grande desafio diante da heterogeneidade dos sintomas e da escassez de opções farmacológicas de tratamento.
Referência: Karschnia, P., Parsons, M. W., & Dietrich, J. (2019). Pharmacologic management of cognitive impairment induced by cancer therapy. The Lancet Oncology, 20(2), e92–e102. doi:10.1016/s1470-2045(18)30938-0