Estudo aceito para apresentação em poster no ASCO Breaktrough 2023 analisou os 10 anos da experiência brasileira no rastreamento do câncer colorretal, com achados que revelam discrepâncias entre as diretrizes e sua implementação como um programa de triagem. O trabalho é dos médicos Victor Filogonio, Yara Rafaela Maia e Lucas Henrique Maia.
A crescente incidência do câncer colorretal (CRC) observada em países pobres e em desenvolvimento, assim como as altas taxas de mortalidade em comparação com países de alta renda, apontam para a difícil implementação de uma estratégia eficaz de triagem em cenários de recursos limitados. O Brasil é um dos poucos países latino-americanos a manter um programa de rastreamento de CRC de base populacional, visando a faixa etária de 50 a 74 anos, a partir do teste de sangue oculto nas fezes (FT) a cada 2 anos e da colonoscopia/sigmoidoscopia como teste confirmatório.
“Realizamos um estudo transversal, que avaliou a prevalência de cada estágio do CRC/carcinoma in situ (CIS) no momento do diagnóstico de 2013 a 2022. Foram obtidos dados semelhantes sobre os programas brasileiros de rastreamento de câncer de mama e colo do útero. Cada etapa foi avaliada segmentada por idade e por seu respectivo programa de triagem, usando o banco de dados nacional (DATASUS)”, descrevem os autores.
Os resultados mostram que na década analisada houve um total de 87.507 casos de CRC/CIS na população geral estudada, dos quais apenas 11% estavam no estágio I ou inferior e 70% no estágio III ou IV no momento do diagnóstico. Nas faixas etárias estratificadas, o pesquisador mostra que a prevalência de cada estágio permaneceu constante em todos os grupos (In situ/Estágio 0 = 8-9%; Estágio I = 3%; Estágio II = 20-21%; Estágio III = 35-36% ; Estágio IV = 32-34%) e a maioria dos casos ocorreu dos 60 aos 64 anos (20.549 casos).
Em 2022, foram realizados no Brasil 2.128.168 testes de sangue oculto nas fezes, o que corresponde a apenas 4,6% da população-alvo, enquanto 408.489 exames de colonoscopia foram realizados. Os pesquisadores descrevem que, quando comparado a outros programas de rastreamento de câncer, o programa de triagem de CRC apresenta-se indiferente à faixa etária, mantendo taxa constante de estágios regionais/distantes. O estudo mostra que pelo menos 32% dos pacientes apresentaram taxa de sobrevida em 5 anos <17% (5-YSR), enquanto o câncer cervical apresenta aproximadamente 80% dos casos em >91% 5-YSR na primeira faixa etária e o câncer de mama com 89% dos casos em >86% 5-YSR na primeira faixa etária.
Os dados sugerem a ineficácia da implementação do rastreamento do CRC no Brasil. Para os autores, a baixa aceitação do método pela população, já demonstrada na literatura, e a indisponibilidade de exames de imagem confirmatórios devido ao longo tempo de espera e alto custo, acabam por reduzir sua capacidade de detectar lesões em estágio inicial, ao contrário d aceitação e alta eficácia do rastreio do câncer do colo do útero/mama.
“Este estudo pretende ser um ponto de partida para novas pesquisas e estudos de intervenção avaliando o impacto de melhores ações ajustadas localmente na prevenção do câncer colorretal, como convites para triagem, educação em saúde na comunidade e o desenvolvimento de métodos confirmatórios de melhor custo-benefício”.
CRC/CIS cases by age and stage from 2013-2022 | ||||||
| 50-54 | 55-59 | 60-64 | 65-69 | 70-74 | Total |
In situ / Stage 0 | 1252 | 1593 | 1905 | 1734 | 1300 | 7784 |
Stage I | 429 | 511 | 599 | 612 | 415 | 2566 |
Stage II | 2697 | 3548 | 4006 | 3701 | 2873 | 16825 |
Stage III | 5353 | 6637 | 7305 | 6709 | 5359 | 31363 |
Stage IV | 5125 | 6326 | 6734 | 6093 | 4691 | 28969 |
Referência: The challenge of colorectal cancer (CRC) screening in low and middle-income countries (LMIC): The Brazilian ten year long experience.
First Author: Victor Filogonio
Meeting: 2023 ASCO Breakthrough
Session Type: Poster Session
Sub Track: Early Detection and Surveillance
Citation: JCO Global Oncology 9, 2023 (suppl 1; abstr 129)
DOI:10.1200/GO.2023.9.Supplement_1.129
Abstract #129
Poster Bd #H5