O Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM) realizou uma mesa redonda com especialistas de 17 organizações parceiras, entre elas a American Cancer Society e o National Cancer Institute, para revisar as recentes evidências científicas sobre o benefício da atividade física para pacientes e sobreviventes de câncer. Publicado nos periódicos Medicine & Science in Sports & Exercise e CA: A Cancer Journal for Clinicians, o trabalho recomenda a prescrição de exercícios por profissionais de saúde e de educação física para diminuir o risco de desenvolver certos tipos de câncer e melhor atender às necessidades, preferências e habilidades de pacientes e sobreviventes de câncer. O oncologista Gilberto Amorim (foto), Coordenador Nacional de Oncologia Mamária da Oncologia D'Or, comenta as diretrizes.
"A maioria dos pacientes com câncer ou após o câncer não são fisicamente ativos de forma regular. A baixa adesão a essa recomendação resultou na criação de novas diretrizes para sentido de reduzir este déficit no cuidado dos pacientes, aumentar o engajamento dos médicos em avaliar, encaminhar os pacientes, estimular e reforçar que fazer exercícios é seguro na maioria dos pacientes oncológicos, mas exige uma quebra de paradigma", afirma Amorim.
O número de sobreviventes de câncer cresce em todo o mundo. Já são mais de 15,5 milhões de sobreviventes da doença apenas nos Estados Unidos, número que deve dobrar nas próximas décadas. Os sobreviventes enfrentam desafios únicos à saúde como resultado do diagnóstico da doença e do impacto do tratamento no seu bem-estar físico e mental, com declínio no funcionamento físico e na qualidade de vida, além de um risco aumentado de recorrência do câncer e mortalidade por todas as causas em comparação com pessoas sem câncer.
O documento ressalta que o exercício é importante para a prevenção do câncer e reduz especificamente o risco de sete tipos comuns de câncer: cólon, mama, endometrial, rim, bexiga, esôfago e estômago. “Para sobreviventes de câncer, incorporar exercícios ajuda a melhorar a sobrevida após um diagnóstico de câncer de mama, cólon e próstata. Além disso, o exercício durante e após o tratamento do câncer melhora a fadiga, ansiedade, depressão, função física, qualidade de vida”, dizem os especialistas.
Segundo o Painel, há evidências suficientes para concluir que doses específicas de treinamento aeróbio, aeróbio combinado com treinamento de resistência e/ou treinamento de resistência poderia melhorar os resultados de saúde relacionados ao câncer, incluindo ansiedade, sintomas depressivos, fadiga, funcionamento físico e qualidade de vida relacionada à saúde. As implicações para outros resultados, como neuropatia periférica e funcionamento cognitivo, permanecem incertas.
"Evidentemente, pacientes que tiveram câncer devem receber uma avaliação global de saúde antes de iniciar exercícios físicos e receber supervisão específica para as suas necessidades conforme o tipo de câncer, fase do tratamento e limitações”, observa Amorim.
O documento recomenda que os oncologistas avaliem a atividade física de seus pacientes em intervalos regulares; aconselhando sobre seu nível atual e desejado de atividade física e transmitindo a mensagem de que a mudança é importante. "Os pacientes também devem ser encaminhados para programas de exercícios apropriados ou para os profissionais que possam avaliar e estabelecer uma rotina de exercícios”, reforça.
“É importante ressaltar que a grande maioria pode iniciar exercícios aeróbicos de baixa intensidade (caminhada ou bicicleta) sem maiores dificuldades" acrescenta Amorim.
As diretrizes estimulam ainda a continuidade da pesquisa para impulsionar a integração do exercício no padrão de atendimento ao câncer, bem como a aplicação prática imediata da base de evidências cada vez mais robusta sobre os efeitos positivos do exercício para pacientes com câncer.
“As recomendações propostas devem servir como um guia para o profissional de saúde e educação física que trabalha com sobreviventes de câncer. São necessárias mais pesquisas para preencher as lacunas remanescentes no conhecimento para melhor atender os sobreviventes de câncer, bem como aos profissionais de saúde e educação física para melhorar sua prática clínica”, conclui o Painel de Especialistas.
Referência: Exercise is medicine in oncology: Engaging clinicians to help patients move through cancer – Kathryn Schmitz et al - https://doi.org/10.3322/caac.21579