Estudo de Katayama et al. procurou definir a prevalência de distúrbios comportamentais entre pacientes com câncer e caracterizar sua associação com resultados cirúrgicos. A análise mostra que distúrbios do comportamento foram associados a menor probabilidade de obter cirurgia livre de complicações no pós-operatório, maiores gastos e pior prognóstico.
Neste estudo, distúrbios comportamentais (DC) foram definidos como abuso de substâncias, transtorno alimentar ou distúrbios do sono. Os pesquisadores consideraram pacientes diagnosticados com câncer de pulmão, esôfago, câncer gástrico, de fígado, pâncreas e colorretal, identificados nos arquivos da Medicare entre 2018-2021, com dados de distúrbios comportamentais. Foram avaliados os resultados pós-operatórios (ausência de complicações, tempo de internação prolongado, readmissão em 90 dias ou mortalidade em 90 dias), bem como despesas hospitalares e dados de sobrevida global.
Os resultados foram publicados no Journal of the American College of Surgeons e revelam que entre 694.836 pacientes com câncer na base da Medicare, 46.719 (6,7%) pacientes tinham pelo menos um distúrbio de comportamento.
Em relação a pacientes sem distúrbios comportamentais, aqueles com DC tiveram menor probabilidade de serem submetidos à ressecção (23,4% vs 20,3%; p<0,001). Entre os pacientes cirúrgicos, os indivíduos com DC tiveram maior risco de complicação (OR 1,32 [1,26-1,39]), tempo de internação prolongado (OR 1,36 [1,29-1,43]) e maior readmissão em 90 dias (OR 1,57 [1,50-1,65]) independentemente da vulnerabilidade social ou do status do volume hospitalar, resultando em menores chances de atingir cirurgia livre de complicações (OR 0,66 [0,63-0,69]).
Pacientes cirúrgicos com DC também tiveram gastos hospitalares significativamente mais elevados (US$ 17.432) que aqueles sem distúrbios comportamentais (US$ 16.159); p<0,001). Os autores também destacam que pacientes com DC tiveram pior sobrevida pós-operatória a longo prazo (mediana, sem DC: 46,6 [45,9-46,7] vs. com DC: 37,1 [35,6-38,7] meses), mesmo após o controle de outros fatores clínicos (HR 1,26 [1,22-1,31], p<0,001).
Em síntese, distúrbios de comportamento em pacientes com câncer foram associados a menor probabilidade de obter cirurgia livre de complicações no pós-operatório, maiores gastos e pior prognóstico. “São necessárias iniciativas voltadas aos distúrbios de comportamento para melhorar os resultados dos pacientes com câncer submetidos à cirurgia”, concluem os autores.
Referência: Katayama, Erryk S BA1,2; Woldesenbet, Selamawit PhD1; Munir, Muhammad Musaab MBBS1; Endo, Yutaka MD PhD1; Rawicz-Pruszyński, Karol MD PhD1,3; Khan, Muhammad Muntazir Mehdi MBBS1; Tsilimigras, Diamantis MD PhD1; Dillhoff, Mary MD FACS1; Cloyd, Jordan MD, FACS1; Pawlik, Timothy M MD, FACS, PhD MPH MTS MBA1. Effect of Behavioral Health Disorders on Surgical Outcomes in Cancer Patients. Journal of the American College of Surgeons ():10.1097/XCS.0000000000000954, February 29, 2024. | DOI: 10.1097/XCS.0000000000000954