O oncologista Manuel Caitano Maia (foto), médico do Centro de Oncologia do Paraná, em Curitiba e ex-fellow de oncologia clínica do City of Hope Cancer Center, é primeiro autor de artigo de revisão publicado na Nature Reviews Urology que discute as implicações para a prática clínica das técnicas de biópsia líquida, especialmente o uso da análise do DNA tumoral circulante (ctDNA) em tumores geniturinários.
“É a primeira ampla revisão sobre o uso de DNA tumoral circulante em tumores geniturinários a ser publicada. O artigo faz um apanhado sobre as bases biológicas do DNA tumoral circulante (ctDNA), as técnicas utilizadas para avaliação de ctDNA, como o ctDNA se compara à avaliação do DNA tumoral em tecido e as aplicações clínicas do ctDNA no diagnóstico, estadiamento e tratamento do câncer de próstata, rim e bexiga”, esclarece Maia.
O artigo destaca que comparado com a análise de DNA tumoral com base em tecido, o ctDNA no plasma é mais conveniente, facilmente acessível, mais rápido e menos invasivo, minimizando os riscos relacionados aos procedimentos para biópsia tecidual e oferecendo a oportunidade de realizar o monitoramento seriado das alterações.
Além disso, os perfis genômicos do ctDNA refletem a heterogeneidade do tumor, o que tem implicações importantes para a identificação de clones resistentes e seleção da terapias-alvo muito antes da ocorrência de alterações clínicas e radiográficas. “O teste de ctDNA no plasma também pode ser aplicado para o rastreamento do câncer, estratificação de risco e quantificação de doença residual mínima. Esses recursos oferecem uma oportunidade sem precedentes para o tratamento precoce de pacientes, aumentando as chances de sucesso do tratamento”, avalia.
O trabalho enfatiza ainda a possibilidade de identificação de biomarcadores preditivos para seleção e inscrição de pacientes em ensaios clínicos.
“O rendimento do ctDNA depende de vários fatores, incluindo o tempo de aquisição da amostra de sangue em relação ao tratamento e resposta, carga mutacional, volume de doença e a quantidade de DNA livre circulante (cfDNA) que deve ser considerado ao solicitar e interpretar o teste”, observam os autores.
Segundo Maia, com o advento e avanço da oncologia de precisão, tornou-se imprescindível o desenvolvimento de técnicas capazes de analisar o DNA tumoral de forma mais fácil e rápida. “Sabemos que o uso de tecido tumoral deixa muito a desejar, pois muitas vezes a biópsia é difícil de ser feita e acarreta inúmeros riscos. Além disso, é relativamente comum nos frustrarmos com a presença de material insuficiente ou inviável para análise molecular. Nesse sentido, o uso de plasma para análise de ctDNA é revolucionário na medida em que nos permite fazer as análises moleculares de forma muito prática”, conclui o oncologista.
Referência: Maia, M.C., Salgia, M. & Pal, S.K. Harnessing cell-free DNA: plasma circulating tumour DNA for liquid biopsy in genitourinary cancers. Nat Rev Urol (2020). https://doi.org/10.1038/s41585-020-0297-9