Estudo australiano de base populacional revelou risco aumentado para carcinoma ovariano seroso de alto grau em mulheres com histórico de doença inflamatória pélvica (DIP), achado que dá suporte à hipótese de que processos inflamatórios podem estar envolvidos na etiologia da doença. Os resultados foram publicados na Cancer Epidemiology1. A oncologista Angélica Nogueira-Rodrigues (foto), presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA/GBTG) e professora na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), analisa os resultados.
Os carcinomas epiteliais são responsáveis por 90% de todos os cânceres ovarianos e foram classificados em cinco subtipos histológicos principais, sendo que 70% dos casos são representados por tumores serosos de alto grau (HGSC, da sigla em inglês).
Neste estudo de base populacional, os pesquisadores identificaram uma coorte de 441.382 mulheres residentes na Austrália Ocidental que já haviam sido admitidas em hospitais locais. Dessa população, 454 mulheres foram diagnosticadas com HGSC.
Com o objetivo de identificar as razões de risco (HRs), os pesquisadores utilizaram a regressão de Cox para comparar o risco de HGSC com uma variedade de diagnósticos.
Os resultados revelaram risco aumentado de HGSC associado ao diagnóstico de doença pélvica inflamatória (HR 1,47, IC 95% 1,04-2,07), mas não com diagnóstico de infertilidade ou endometriose, com HRs de 1,12 (IC 95% 0,73–1,71) e 0,82 (IC 95% 0,55–1,22), respectivamente. Uma história pessoal de câncer de mama foi associada a um aumento de três vezes na taxa de HGSC. O aumento da paridade foi associado a um risco reduzido de HGSC em mulheres sem histórico pessoal de câncer de mama (HR 0,57; IC95% 0,44-0,73), mas não em mulheres com história pessoal de câncer de mama (HR 1,48; IC 95% 0,74 -2,95).
Em conclusão, os achados mostram aumento do risco de HGSC associado com doença pélvica inflamatória, indicando que processos inflamatórios podem estar envolvidos na etiologia da HGSC.
Segundo a oncologista Angélica Nogueira-Rodrigues (foto), presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA/GBTG) e professora na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a associação entre DIP e carcinoma epitelial de ovário já fora anteriormente aventada e os dados do presente estudo estão alinhados com robusta análise de banco de dados populacionais da Dinamarca, publicada por Rasmussen e colaboradores em 20172. “Os autores demonstraram que, em análise de mais de 81 mil casos de pacientes previamente diagnosticadas com DIP, não houve aumento do risco para câncer de ovário global, mas houve associação entre DIP e aumento de incidência de carcinoma epitelial de ovário do subtipo seroso. Recentemente, Trabert et al também apresentaram na AACR 2018 um estudo que demonstrou que a infecção por Chlamydia pode dobrar o risco pessoal de câncer de ovário”, explica.
“Mais estudos são necessários por alta probabilidade de viés e complexidade destas análises, mas estes achados já abrem uma importante via de investigação para tentar ampliar a limitada compreensão da etiologia do câncer de ovário não hereditário e cria expectativas para o desenvolvimento de ferramentas de prevenção efetivas para a doença”, avalia.
Referência:
1 - Louise M. Stewart, Katrina Spilsbury, Susan Jordan, Colin Stewart, C. D’Arcy J. Holman, Aime Powell, Joanne Reekie, Paul Cohen, Risk of high-grade serous ovarian cancer associated with pelvic inflammatory disease, parity and breast cancer, Cancer Epidemiology,Volume 55,2018, Pages 110-116, ISSN 1877-7821 - https://doi.org/10.1016/j.canep.2018.05.011
2 - Rasmussen CB1, Jensen A1, Albieri V2, Andersen KK2, Kjaer SK3,4. - Cancer Epidemiol Biomarkers Prev. 2017 Jan;26(1):104-109. doi: 10.1158/1055-9965.EPI-16-0459. Epub 2016 Sep 26.Is Pelvic Inflammatory Disease a Risk Factor for Ovarian Cancer?