Onconews - Dois terços dos pacientes com câncer de laringe avançado não recebem o tratamento recomendado

cancer_cabeca_pescoco.jpgUm estudo publicado no International Journal of Radiation Oncology, Biology and Physics por especialistas do Penn Medicine revelou que quase dois terços dos pacientes com câncer de laringe T4a não estão recebendo a laringectomia total, forma recomendada de tratamento, e têm taxas de sobrevida significativamente piores. Os resultados mostraram que os pacientes submetidos a uma laringectomia viveram, em média, quase dois anos a mais do que aqueles em quimio e radioterapia.

“Os ensaios clínicos que mostravam que era possível preservar laringes em pacientes com estádio avançado talvez tenham sido mal interpretados no mundo inteiro. As pessoas esperavam mais do que os trials ofereciam”, afirma o cirurgião oncologista de cabeça e pescoço, Luiz Paulo Kowalski. Segundo o especialista, os pacientes com tumores T4 de alto volume não devem ser tratados por quimio e radioterapia. “Nós vamos perder tempo de tratamento, a resposta é muito baixa e quando existe resposta o resultado final é muito ruim, a laringe não fica funcionante, esses pacientes têm dificuldade de deglutição, de fala, ficam traqueostomizados usando sonda e são submetidos à cirurgia de resgaste com alto risco de complicações”, explica.

Alexander Lin, autor senior do estudo, professor assistente e chefe do Serviço de Cabeça e Pescoço no departamento de Radiação Oncológica da Perelman School of Medicine, da Universidade da Pensilvânia, afirmou que a preservação da laringe via quimiorradição é uma excelente opção de preservação de órgão para muitos pacientes com cânceres de laringe menos avançados, mas o tratamento é inferior para a maioria dos pacientes com câncer de laringe localmente avançados. "Estes doentes devem ser tratados com laringectomia total, e nosso estudo mostra que a maioria deles não realiza o procedimento”, disse.

"Ficamos surpresos ao descobrir que quase dois terços dos pacientes com câncer de laringe fase T4a não estão sendo tratados com laringectomia total", disse Surbhi Grover, professor assistente de Radiação Oncológica na Universidade da Pensilvânia e autor do estudo. "Mas não ficamos surpresos ao descobrir que a sobrevida global foi significativamente melhor com laringectomia total em comparação com a preservação da laringe, tendo em conta os resultados de estudos anteriores, que serviram de base para as diretrizes de melhores práticas atualmente em vigor."
 
Os autores afirmam ainda que não está claro porque as diretrizes bem estabelecidas para o tratamento de câncer de laringe T4a não foram seguidas nos casos examinados pela equipe. As possíveis razões incluem médicos que entenderam mal ou aplicam as orientações de modo errado, ou pacientes que estão sendo informados de que a laringectomia total é o tratamento indicado, mas recusam o conselho médico e optam pela quimiorradiação devido a preocupações sobre a qualidade de vida e perda da função normal de voz após a laringectomia total.
 
"Os pacientes e médicos precisam estar conscientes e informados sobre as indicações adequadas, tanto para preservação da laringe como para a laringectomia total, de modo que as melhores opções de tratamento médico possam ser discutidas e oferecidas para cada paciente", disse Lin. "Precisamos educar os pacientes sobre os diversos métodos de reabilitação vocal após a laringectomia total, a fim de tirar o estigma do procedimento, e os possíveis efeitos sobre a qualidade de vida que essa cirurgia pode ter", acrescentou.

Métodos e resultados

A partir do Banco de Dados Nacional de Câncer, o estudo identificou 969 pacientes entre 2003-2006 que receberam tratamento com intenção curativa para câncer de laringeT4a. Um total de 616 doentes (64%) receberam quimiorradiação preservadora da laringe, e 353 (36%) receberam laringectomia total.
 
Na regressão logística multivariada, os pacientes com doença nodal avançada eram menos propensos a receber laringectomia total (N2 vs N0, 26,6% vs 43,4%, odds ratio [OR] 0,52, 95% CI 0,37-0,73; N3 vs N0, 19,1 % vs 43,4%, OR 0,23, 95% CI 0,07-0,77), enquanto os pacientes tratados em instituições de alto volume de casos eram mais propensos a receber a laringectomia total (46,1% vs 31,5%, OR 1,78, 95% CI 1,27-2,48).
 
A mediana de sobrevida global para pacientes que receberam laringectomia total foi de 61 meses, versus 39 meses (P <0,001 ) para os pacientes que receberam quimiorradioterapia.

Referência: Total Laryngectomy Versus Larynx Preservation for T4a Larynx Cancer: Patterns of Care and Survival Outcomes