Análise retrospectiva do banco de dados do Veterans Health Administration (VHA) mostrou que pacientes com câncer de próstata metastático resistente à castração virgens de quimioterapia tratados com enzalutamida tiveram melhor sobrevida em relação àqueles tratados com abiraterona. Os dados foram reportados em acesso aberto por Tagawa et al. na Prostate Cancer and Prostatic Diseases. Quem comenta os resultados é o oncologista José Maurício Mota (foto), chefe do Serviço de Oncologia Clínica Geniturinária do ICESP/FMUSP e médico da Oncologia D’Or.
Os autores descrevem que a avaliação comparativa da eficácia de enzalutamida e abiraterona em pacientes com câncer de próstata metastático resistente à castração (mCRPC) é limitada a meta-análises de estudos randomizados, que excluem pacientes com comorbidades significativas. Nesta análise, os pesquisadores avaliaram a sobrevida global (SG) em pacientes com mCRPC virgem de quimioterapia tratados com enzalutamida ou abiraterona.
A análise retrospectiva (01/04/2014 - 31/03/2018) considerou dados do Veterans Health Administration, incluindo pacientes com mCRPC com ≥ 1 solicitação de farmácia para enzalutamida ou abiraterona (data da primeira solicitação = data de índice) após progressão da doença na castração cirúrgica, sem tratamento quimioterápico <12 meses antes da data de índice. Análise de Kaplan-Meier e modelos multivariáveis de regressão de riscos proporcionais de Cox examinaram o impacto do tratamento na sobrevida global (SG).
Resultados
Pacientes com mCRPC virgens de quimioterapia (N = 3174; enzalutamida, n = 1229; abiraterona, n = 1945) tinham média de idades de 74 e 73 anos, respectivamente. O acompanhamento mediano foi de 18,27 e 19,07 meses com enzalutamida e abiraterona, respectivamente.
Os resultados mostram que pacientes tratados com enzalutamida tiveram duração mediana de tratamento mais longa do que aqueles tratados com abiraterona (9,93 vs 8,47 meses, respectivamente, p = 0,0008). Após o ajuste por fatores prognósticos (raça, idade, comorbidades e tratamentos prévios), os pacientes tratados com enzalutamida tiveram risco de morte reduzido em 16% ([HR] = 0,84; IC de 95%, 0,76-0,94; p = 0,0012). A mediana de sobrevida global foi de 29,63 vs. 25,87 meses em favor da enzalutamida.
Entre aqueles pacientes que permaneceram em primeira linha com enzalutamida ou abiraterona, o tratamento com enzalutamida também foi associado a maior sobrevida global (HR = 0,71; IC de 95%, 0,62–0,82). Entre os pacientes tratados com enzalutamida que passaram para abiraterona, o risco de morte foi comparável ao de pacientes tratados com abiraterona que passaram para enzalutamida (HR = 0,91; IC de 95%, 0,74-1,13).
Em conclusão, esta análise retrospectiva do banco de dados VHA mostra que pacientes com mCRPC virgens de quimioterapia que iniciaram a terapia com enzalutamida melhoraram a sobrevida em relação à abiraterona.
Segundo Mota, o estudo tem algumas limitações, entre elas a natureza retrospectiva. “Adicionalmente, é importante salientar que ambos os agentes (enzalutamida e abiraterona) estão sendo utilizados cada vez mais frequentemente no cenário da doença castração-sensível (mCSPC), o que pode impactar a interpretação adequada dos dados à luz da prática corrente”, avalia. “O presente estudo deve ser encarado como um gerador de hipóteses para dar suporte a futuras comparações prospectivas em estudos randomizados”, conclui o oncologista.
Referência: Tagawa, S.T., Ramaswamy, K., Huang, A. et al. Survival outcomes in patients with chemotherapy-naive metastatic castration-resistant prostate cancer treated with enzalutamide or abiraterone acetate. Prostate Cancer Prostatic Dis (2021). https://doi.org/10.1038/s41391-021-00318-3