Dados do estudo PROSPER publicados no NEJM demonstraram a eficácia da enzalutamida em retardar o aparecimento de metástases, necessidade de nova terapia e progressão de PSA mostram ganho de sobrevida global com enzalutamida em pacientes com câncer de próstata resistente à castração, sem grandes novidades em relação aos efeitos colaterais já previamente conhecidos. O estudo tem a participação do urologista brasileiro Ubirajara Ferreira, da Unicamp. O oncologista Andrey Soares (foto), médico do Centro Paulista de Oncologia e do Hospital Israelita Albert Einstein e chair do LACOG-GU, comenta o trabalho.
Neste estudo duplo-cego, randomizado, de fase 3, os pacientes foram randomizados na proporção 2: 1 para receber enzalutamida (160 mg) ou placebo uma vez por dia. O desfecho primário foi sobrevida livre de metástase (definida como o tempo para progressão radiográfica ou morte sem progressão radiográfica).
Foram inscritos pacientes com câncer de próstata resistente à castração (doença não-metastática), com tempo de duplicação de PSA de 10 meses ou menos em tratamento com terapia de privação de androgênio.
Resultados
Foram randomizados 1401 pacientes (mediana do tempo de duplicação do PSA, 3,7 meses). No momento da análise, em 28 de junho de 2017, um total de 219 de 933 pacientes (23%) haviam progredido para metástase ou morte no grupo de enzalutamida em comparação com 228 de 468 (49%) no grupo placebo. A mediana de sobrevida livre de metástases foi de 36,6 meses no grupo da enzalutamida versus 14,7 meses no grupo placebo (razão de risco para metástase ou morte, 0,29; IC: 95%, 0,24 a 0,35; P <0,001).
O tempo para o uso de terapia subsequente foi mais longo com enzalutamida do que com placebo (39,6 vs. 17,7 meses; razão de risco, 0,21; P <0,001. O tempo para progressão do PSA também favoreceu o braço tratado com enzalutamida (37,2 vs. 3,9 meses; razão de risco, 0,07; P <0,001) e a progressão ocorreu em 22% versus 69% dos pacientes.
Em relação ao perfil de segurança, eventos adversos de grau 3 ou superior ocorreram em 31% dos pacientes no braço de enzalutamida, em comparação com 23% dos que receberam placebo. Os eventos adversos foram consistentes com o perfil de segurança estabelecido da enzalutamida.
Em conclusão, em homens com câncer de próstata não metastático e resistente à castração com PSA em elevação, o tratamento com enzalutamida demonstrou efeito clinicamente significativo e diminuiu em 71% o risco de metástase ou morte.
O estudo foi financiado pela Pfizer e pela Astellas Pharma, e está registrado no ClinicalTrials.gov - NCT02003924.
Referências: Hussain M, Fizazi K, Saad F, et al. Enzalutamide in men with nonmetastatic, castration-resistant prostate cancer. N Engl J Med 2018;378:2465-74. DOI: 10.1056/NEJMoa1800536 [Published online June 28, 2018]
Eficácia da enzalutamida no câncer de próstata resistente à castração
Andrey Soares, médico do Centro Paulista de Oncologia e do Hospital Israelita Albert Einstein e chair do LACOG-GU
A incidência de pacientes com cancer de próstata não metastáticos resistente a castração é muito baixa e muitas vezes provocadas pelos próprios médicos com uma ansiedade para início de tratamento nos pacientes com recidiva bioquímica. Em alguns casos os pacientes acabam apresentando progressão de PSA com valores de testosterona em níveis de castração, porém não apresentam metástases nos exames regulares, tais como: tomografia e cintilografia óssea. Neste cenário o tempo de duplicação do PSA é um dos fatores prognósticos mais importantes para progressão para doença metastática e/ou morte1,2.
A enzalutamida já tinha mostrado eficácia com excelente tolerância e baixo perfil de toxicidade nos pacientes com câncer de próstata metastático e resistentes a castração, antes ou após o uso de docetaxel3,4. Neste estudo a enzalutamida demonstrou sua eficácia em retardar o aparecimento de metástases, necessidade de nova terapia e progressão de PSA, sem grandes novidades em relação aos efeitos colaterais, já previamente conhecidos5.
Este resultado traz a medicação como importante no manejo dos pacientes de alto risco de progressão para doença metastática em um cenário sem opções com atividade adequada. A enzalutamida já tinha se mostrado melhor que a bicalutamida para estes pacientes no estudo STRIVE6.
A sobrevida global ainda não pode ser avaliada devido poucos eventos em ambos os grupos, mas já sabemos que a sobrevida livre de metástase é um endpoint importante e é preditor de sobrevida global neste cenário de pacientes7. Sendo assim esperamos que com o seguimento mediano mais longo este benefício possa aparecer.
Uma das grandes discussões atuais refere-se ao uso do PET-CT PSMA que tem uma sensibilidade e especificidade muito maior que os exames regulares já citados previamente, e provavelmente nesta população a possibilidade deste exame ser positivo é ainda mais alta. Porém, neste sentido, podemos ficar mais tranquilos, uma vez que a enzalutamida é altamente eficaz tanto na população com câncer de próstata resistente a castração metastático como não metastático.
Referências:
- J Clin Oncol.2013 Oct 20;31(30):3800-6
- BJU Int.2017 Nov;120(5B):E80-E86
- N Engl J Med. 2014 Jul 31;371(5):424-33
- N Engl J Med. 2012 Sep 27;367(13):1187-97
- N Engl J Med2018;378:2465-74
- J Clin Oncol. 2016 Jun 20;34(18):2098-106
- Journal of Clinical Oncology 2018 36:15_suppl, 5032-5032
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