O estudo de fase III ACHIEVE realizado no Japão foi um dos seis estudos prospectivos que exploraram se 3 meses de terapia adjuvante com fluorouracil, leucovorina e oxaliplatina (FOLFOX) ou capecitabina e oxaliplatina (CAPOX) é não inferior a 6 meses de tratamento em pacientes com câncer de cólon em estágio III curativamente ressecado. Agora, Yoshino et al. reportam análises finais de sobrevida e segurança, em artigo publicado online 5 de maio no Journal of Clinical Oncology (JCO). Os resultados de longo prazo mostram que, em pacientes asiáticos, encurtar a duração da terapia adjuvante de 6 para 3 meses não comprometeu a eficácia e reduziu a taxa de neuropatia periférica, demonstrando que CAPOX trimestral foi uma opção adequada. “O estudo reforça que 3 meses é seguro e menos tóxico para a maioria dos pacientes”, destaca Rachel Riechelmann (foto), diretora do Departamento de Oncologia do A.C. Camargo Cancer Center e presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG).
Neste estudo, os pacientes elegíveis foram randomizados (1:1) para receber 3 ou 6 meses de quimioterapia adjuvante com FOLFOX6 modificado ou CAPOX, conforme selecionado pelo médico. Os pacientes foram estratificados de acordo com o número de linfonodos envolvidos, centro e regime de tratamento, tumor primário e idade. O endpoint primário foi a sobrevida livre de doença, avaliada na população por intenção de tratar modificada. A sobrevida global (SG) foi um endpoint secundário.
Os autores descrevem que a população por intenção de tratar modificada compreendeu 1.291 pacientes: 641 no grupo de tratamento de 6 meses e 650 no grupo de 3 meses. O acompanhamento médio para esta análise foi de 74,7 meses.
Os resultados reportados no JCO mostram que as taxas de SG em cinco anos foram comparáveis: 87,0% no grupo de tratamento de 3 meses e 86,4% no grupo de tratamento de 6 meses (razão de risco, 0,91; IC 95%, 0,69 a 1,20; P = 0,51). A análise de subgrupo de SG não mostrou interação significativa entre as características basais e a duração do tratamento.
A análise de segurança revelou que a neuropatia sensorial periférica com duração superior a 5 anos foi mais comum no grupo de tratamento de 6 meses em comparação com o grupo trimestral (16% versus 8%, respectivamente) e naqueles que receberam mFOLFOX6 em comparação com CAPOX (14% vs 11%, respectivamente).
“Em pacientes asiáticos, encurtar a duração da terapia adjuvante de 6 para 3 meses não comprometeu a eficácia e reduziu a taxa de neuropatia sensorial periférica de longa duração. Nesse cenário, 3 meses de terapia com CAPOX é uma opção de tratamento adjuvante adequada”, concluem os autores.
“Além dos dados de sobrevida global, agora temos mais maturidade nos dados de sobrevida livre de doença (SLD). A taxa de SLD aos 5 anos, de 3 vs 6 meses, foi 75% vs 74%, sem diferença estatística. Quando estratificado por regime, FOLFOX foi 68,6% vs 69,7% e CAPOX 77,4% vs 75,8%, igualmente sem diferença estatística. Então, ambos os regimes parecem, no geral, conferir o mesmo benefício em termos de sobrevida livre de doença aos 5 anos”, afirma Rachel.
A especialista observa que assim como aconteceu no estudo IDEA, os autores também estratificaram os pacientes em grupos de baixo (T1-3 N1) e alto risco (T4 / N2). “No grupo de baixo risco, a SLD aos 5 anos foi de 86,5% vs 84,8%, muito parecido, sem significância estatística, e no grupo de alto risco a mesma coisa, 60,7% vs 61,5%, sem diferença estatística. Quando consideramos o regime e o risco, ainda que na análise multivariada exista uma tendência de que o CAPOX seja melhor, os dados brutos são muito parecidos com os dados do IDEA pra N2, que é um grupo de alto risco. No IDEA, especificamente no T4, independentemente de ser N1 ou N2, a utilização de CAPOX foi melhor em 3 meses em comparação com FOLFOX. Nesse estudo os autores não observaram isso. Então, para pacientes de baixo risco, 3 meses de FOLFOX ou CAPOX ofereçam um resultado bem parecido, e talvez reservar o tratamento de 6 meses para pacientes de maior risco, ainda que nesse estudo a gente vê que não tem diferença fazer FOLFOX ou CAPOX por 3 ou 6 meses. O que os autores realmente observaram de diferença foi o grau de neuropatia, que é obviamente maior em 6 meses”, esclarece.
“Certamente, se existe algum benefício de se fazer 6 meses, ele é muito pequeno, talvez da ordem de 1%, 1,5%, às custas de neurotoxicidade relevante. Às vezes tentamos fazer 6 meses, mas a partir dos 3 meses no paciente de alto risco, se a neurotoxicidade for um problema, tiramos a oxilaplatina e seguimos os 6 meses com a capecitabina”, conclui.
Referência: Final Analysis of 3 Versus 6 Months of Adjuvant Oxaliplatin and Fluoropyrimidine-Based Therapy in Patients With Stage III Colon Cancer: The Randomized Phase III ACHIEVE Trial - DOI: 10.1200/JCO.21.02628 Journal of Clinical Oncology - Published online May 05, 2022.