Onconews - Estudo brasileiro discute prognóstico no derrame pleural maligno

FERNANDO ABRAO NET OKFernando Abrão (foto) é  primeiro autor de estudo publicado no Journal of Thoracic Disease, desenhado com o objetivo de melhorar o prognóstico de pacientes com derrame pleural maligno e identificar aqueles com maior risco de recorrência.

Este estudo analisou prospectivamente um subgrupo de pacientes com derrame pleural maligno (DPM) tratados em uma única instituição. O DPM foi caracterizado pela presença de células malignas no líquido pleural,  sempre com validação da análise patológica e revisão da equipe clínica. A recorrência foi definida como a necessidade de novo procedimento pleural após o primeiro procedimento paliativo, avaliada mensalmente até um ano após a inclusão do último paciente. Fatores prognósticos para recorrência pleural foram identificados por análise univariada pelo método de Kaplan-Meier e o teste log-rank foi utilizado para a comparação entre as curvas. Modelos de regressão Cox univariados e múltiplos foram utilizados para medir o risco de recorrência.

Resultados

Um total de 288 pacientes foi incluído na análise, 62,5% do sexo feminino, 41,7% ECOG 2. A idade média dos pacientes foi de 59,8 anos (DP = 13,8), com mediana de 61 anos, variando de 18 a 96 anos. Quanto ao estado nutricional, 60,1% apresentavam peso normal no momento do diagnóstico de recidiva. O procedimento mais frequente foi a pleurodese (43,1%), seguida pela drenagem (41,2%).

A sobrevida livre de recorrência foi de 76,6% em 6 meses e 73,3% em 12 meses. A análise univariada mostrou que entre os fatores que afetam a recorrência pós-operatória estão a contagem de linfócitos e plaquetas, procedimento pleural, linhas de quimioterapia e número de metástases. Os fatores independentes para sobrevida livre de recidiva foram procedimento pleural e linhas de quimioterapia. Pacientes submetidos à pleurodese apresentaram fator de proteção para recidiva, com HR = 0,34 (IC 95%, 0,15-0,74, P = 0,007). Por outro lado, pacientes submetidos à 1ª e 2ª linha de quimioterapia paliativa apresentaram, respectivamente, HR= 2,81 (IC95%, 1,10–7,28, P = 0,034) e HR = 3,23 (IC95%, 1,33–7,84). , P = 0,010).

“O tratamento definitivo do derrame pleural maligno, como pleurodese, foi associado ao menor  risco de recorrência do DPM. Os pacientes que receberam primeira ou segunda linha de tratamento sistêmico apresentaram maior risco de recorrência”, destacam os autores. O derrame pleural maligno é responsável por mais de 125 mil internações por ano apenas nos Estados Unidos, segundo levantamento publicado na Chest em 2017.

Os autores descrevem a dispneia ou tosse progressiva associada ao DPM como condição frequentemente debilitante  e de enorme impacto na qualidade de vida. O  DPM o está associado a uma sobrevida média de 4 a 7 meses e refinar ferramentas prognósticas pode ajudar a individualizar estratégias de tratamento mais intensivas.

"Nosso estudo sugere que é importante levar em consideração a progressão da doença no momento de definir o tratamento do derrame pleural. Por exemplo, pacientes virgem de tratamento têm risco menor de recidiva, provavelmente porque se beneficiarão do melhor tratamento sistêmico para o câncer. Este risco de recidiva do derrame aumenta de acordo com o número de progressões ao longo do tempo, em linha com a diminuição de taxa de resposta que se vê com linhas de tratamento subsequentes. Desta forma, em algumas situações é possível usar tratamentos menos invasivos em pacientes que apresentam derrame pleural ao diagnóstico", conclui Abrão, médico da Faculdade de Medicina Santa Marcelina e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Referências

Abrão, F. C., de Abreu, I. R. L. B., de Oliveira, M. C., Viana, G. G., Pompa Filho, J. F. S., Younes, R. N., & Negri, E. M. (2020). Prognostic factors of recurrence of malignant pleural effusion: what is the role of neoplasia progression? Journal of Thoracic Disease, 12(3), 813–822. doi:10.21037/jtd.2020.01.13

Taghizadeh, N., Fortin, M., & Tremblay, A. (2017). US Hospitalizations for Malignant Pleural Effusions. Chest, 151(4), 845–854. doi:10.1016/j.chest.2016.11.010