André Mattar (foto) é o primeiro autor de estudo que traz insights importantes sobre o tratamento do câncer de mama triplo negativo no sistema público de saúde do Brasil. Os resultados relatados no JCO Global Oncology mostram que a sobrevida global foi maior em pacientes negros e que tanto a resposta patológica completa quanto a terapia adjuvante melhoraram a sobrevida no período analisado (2010 a 2019). Estágios avançados foram significativamente associados com o aumento dos custos do tratamento.
Neste estudo de coorte retrospectivo, Mattar e colegas buscaram analisar os efeitos clínicos, epidemiológicos e econômicos do câncer de mama triplo negativo (TNBC, nas iniciais em inglês) e sua associação com sobrevida no contexto da saúde pública brasileira. Foram considerados pacientes com TNBC tratados entre 2010 e 2019. As taxas de sobrevida global (SG) por estágio foram analisadas em vários grupos de pacientes, incluindo aqueles recebendo tratamento neoadjuvante ou adjuvante, pacientes com ou sem resposta patológica completa, pacientes negros e não negros e aqueles tratados com ou sem terapia baseada em carboplatina. Os modelos de riscos proporcionais de Cox foram aplicados para estimar as razões de risco (HRs) com ICs de 95%, e os custos anuais do tratamento foram calculados por estágio.
Entre 1.266 pacientes com TNBC, 710 atenderam aos critérios de elegibilidade. A análise de Kaplan-Meier indicou que pacientes em estágio II tiveram risco de mortalidade 47% menor do que aqueles em estágio III (HR, 0,53 [IC 95%, 0,33 a 0,85]; P = 0,009). Os autores descrevem que pacientes no grupo de tratamento adjuvante tiveram risco reduzido (HR, 0,48 [IC 95%, 0,34 a 0,69]) em comparação com o grupo neoadjuvante. A obtenção de resposta patológica completa (pCR) melhorou muito a SG (HR, 0,21 [IC 95%, 0,11 a 0,43]; P < 0,001). Pacientes negros tiveram melhores taxas de sobrevida do que não negros (HR, 0,58 [IC 95%, 0,40 a 0,86]; P = 0,006). O uso de carboplatina não afetou significativamente a SG (HR, 0,96 [IC 95%, 0,65 a 1,43]; P = 0,857).
A análise mostra que o custo médio mensal para tratamento sistêmico de TNBC aumentou com a progressão da doença, de US$ 101,87 em dólares americanos (USD) para estágio I para US$ 314,77 para terapia de segunda linha em estágio IV.
“Este estudo fornece insights sobre TNBC no sistema de saúde pública do Brasil, mostrando que a SG diminui com a progressão da doença, mas é maior entre pacientes negros. A pCR e a terapia adjuvante melhoram a sobrevida, embora os custos aumentem significativamente em estágios avançados, destacando o ônus econômico do gerenciamento do TNBC em estágio avançado”, destacam os autores.
Além de André Mattar, médico da Oncoclínicas e do Centro de Referência da Saúde da Mulher–Hospital da Mulher, em São Paulo, o trabalho tem a participação de Marcelo Antonini, Andressa Gonçalves Amorim, Marina Diógenes Teixeira, Cristiano Augusto Andrade de Resende, Francisco Pimentel Cavalcante, Felipe Zerwes, Renata Arakelian, Eduardo de Camargo Millen, Fabricio Palermo Brenelli, Antonio Luiz Frasson, Renata Montarroyos Leite e Luiz Henrique Gebrim.
A íntegra do estudo está disponível no JCO Global Oncology em acesso aberto.
Referência:
André Mattar et al., Overall Survival and Economic Impact of Triple-Negative Breast Cancer in Brazilian Public Health Care: A Real-World Study. JCO Glob Oncol 11, e2400340(2025). DOI:10.1200/GO-24-00340