Onconews - Estudo de vida real mostra que mulher idosa é menos propensa a receber padrão de 1ª linha no câncer de mama metastático HER2+

azambuja ok bxEstudo de vida real que avaliou padrões de tratamento e resultados de pacientes com câncer de mama metastático HER2-positivo de acordo com a idade mostrou que mulheres mais velhas receberam tratamento padrão de primeira linha com menos frequência do que as pacientes mais jovens. A análise foi publicada por Annonay et al. no periódico The Breast, com diferenças associadas a pior sobrevida global e livre de progressão para tratamentos não padrão. “Sabemos hoje que a idade biológica não deve ser um fator determinante para definir tratamentos”, observa o oncologista Evandro de Azambuja (foto), do Instituto Jules Bordet, na Bélgica.

Neste estudo foram incluídas mulheres que iniciaram tratamento para câncer de mama metastático HER2+ entre 2008 e 2016 em um dos 18 centros franceses que fazem parte do programa ESME - Epidemiology Strategy and Medical Economics. Os principais endpoints foram a descrição dos padrões de tratamento de primeira linha, sobrevida global (SG), sobrevida livre de progressão na primeira linha (SLP1) e fatores prognósticos entre pacientes com 70 anos ou mais (70+), ou abaixo de 70 anos (<70).

Resultados

De 4.045 mulheres com diagnóstico de câncer de mama metastático HER2+, 814 (20%) tinham 70+. Os autores descrevem que o tratamento padrão de primeira linha (quimioterapia combinada com terapia anti-HER2) foi prescrito para 65% das pacientes 70+ versus 89% de pacientes <70 anos (p <0,01).

A SG mediana foi de 49,2 (IC de 95%, 47,1–52,4), 35,3 (IC de 95%, 31,5–37,0) e 54,2 meses (IC de 95%, 50,8–55,7) em toda a população, em pacientes com 70+ e <70, respectivamente. A mediana de SLP1 correspondente foi de 12,8 (IC de 95%, 12,3–13,3), 11,1 (IC de 95%, 10,0–12,3) e 13,2 meses (IC de 95%, 12,7–13,9), respectivamente.  Nesta análise, Annonay e colegas reportam que o início do tratamento de primeira linha não padrão teve um efeito prejudicial independente em mulheres com mais de 70 anos, afetando tanto a SG quanto a SLP (HR para SG em 1 ano: quimioterapia sem anti-HER2 2,79 [IC 95%: 2,05–3,79]; terapia endócrina e / ou anti-HER2 1,96 [IC 95%: 1,43–2,69]).

“Neste grande banco francês de dados retrospectivo da vida real, mulheres mais velhas com câncer de mama metastático HER2+ receberam tratamento padrão de primeira linha com menos frequência do que as mais jovens. Isso foi independentemente associado a pior resultado, mas fatores de confusão e vieses de seleção usuais não podem ser excluídos”, concluem os autores.

Em síntese, nesta coorte de mundo real apenas 65% das mulheres com mais de 70 anos receberam tratamento padrão de primeira linha, definido como quimioterapia com terapia anti-HER2, com ou sem terapia endócrina. As mulheres mais velhas foram menos propensas a receber terapia padrão em comparação com suas contrapartes mais jovens. Essas diferenças de tratamento foram associadas a pior SG e SLP, embora uma relação causal não possa ser demonstrada de forma estrita.

“Antes de qualquer decisão oncológica, uma deve ser realizada uma avaliação oncogeriátrica, e vários fatores devem ser levados em consideração, como por exemplo, idade, polimedicamentos, comorbidades, autonomias e, mais importante, a preferência da paciente. Vale ressaltar que todos os tratamentos oncológicos devem ser discutidos em caráter multidisciplinar”, conclui Azambuja.

A íntegra do estudo está disponível, em acesso aberto.

Referência: Annonay M, Gauquelin L, Geiss R, Ung M, Cristol-Dalstein L, Mouret-Reynier MA, Goncalves A, Abadie-Lacourtoisie S, Francois E, Perrin C, Le Fel J, Lorgis V, Servent V, Uwer L, Jouannaud C, Leheurteur M, Joly F, Campion L, Courtinard C, Villacroux O, Petit T, Soubeyran P, Terret C, Bellera C, Brain E, Delaloge S. Treatment and outcomes of older versus younger women with HER2-positive metastatic breast cancer in the real-world national ESME database. Breast. 2021. https://doi.org/10.1016/j.breast.2021.09.011