O Instituto Nacional de Câncer (INCA) e o Ministério da Saúde divulgaram os resultados do estudo ‘Compreendendo a Sobrevivência ao Câncer na América Latina: Os casos do Brasil’. Com uma abordagem qualitativa, a pesquisa aprofundou temas ligados à sobrevivência em entrevistas com pacientes e familiares, e demonstrou que a maioria dos participantes reavaliou seu estilo de vida após a experiência do adoecimento, com da adoção de uma dieta mais saudável, prática de exercícios físicos e exames médicos periódicos.
Com o crescimento do número de casos novos e as atuais taxas de sobrevida para o câncer no Brasil, o número de sobreviventes de câncer tem aumentado significativamente, tornando o acompanhamento desse grupo um grande desafio para a rede de saúde. “Precisamos nos preparar para atender o imenso contingente de pessoas que sobreviveram à doença, mas que podem ter sequelas físicas e emocionais tanto do câncer quanto do tratamento. Este grupo já é uma das grandes preocupações das redes de saúde em países desenvolvidos, situação para qual o Brasil caminha a passos largos,” afirma Liz Almeida, médica epidemiologista, chefe da Divisão de Pesquisa Populacional do INCA e coordenadora executiva do estudo.
Os pesquisadores entrevistaram 47 indivíduos diagnosticados há pelo menos 12 meses com câncer de próstata, mama, colo do útero e Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) e 12 familiares/cuidadores, em hospitais das redes pública e privada no Rio de Janeiro e em Fortaleza em 2014 e 2015.
Grande parte dos entrevistados reclamou da dificuldade de acesso a informações e da falta de um modelo específico de cuidados para os indivíduos acometidos pelo câncer. Após o tratamento, os pacientes são acompanhados por, pelo menos, cinco anos. Se não houver mais sinais da doença, o paciente retorna à clínica de origem com orientações. “Os médicos da rede básica não têm o histórico dos pacientes e precisam de informações para acompanhar esse grupo” avalia Antônio Tadeu Cheriff, pesquisador do estudo e responsável pelo Núcleo de Pesquisa e Estudos Qualitativos (NupeQuali) da Divisão de Pesquisa Populacional do INCA.
O estudo também apontou uma importante demanda de suporte emocional por parte dos sobreviventes. Neste quesito, a principal carência é entre os familiares e/ou acompanhantes, que não contam com atendimento psicológico, oferecido atualmente somente aos pacientes.
Outro problema relatado pelos entrevistados foi o impacto social e econômico causado pela interrupção das atividades de trabalho tanto de pacientes quanto de familiares que precisam acompanhá-los de forma intensiva durante um período de tempo. “A atenção à sobrevivência ao câncer requer a organização e o incremento de políticas públicas por conta dos possíveis e complexos efeitos físicos, emocionais e econômicos causados pelos tratamentos nas vidas dos pacientes e seus familiares,” opina Ana Cristina Pinho, diretora-geral do INCA. “A discussão proposta por esta pesquisa ressalta a importância do cuidado integral ao sobrevivente ao câncer desde o diagnóstico e a necessidade de uma perspectiva baseada no caráter social da sobrevivência”, conclui.
Internacionalmente, o estudo foi coordenado pela Universidade de Miami e a Fundação de Saúde do México (Funsalud). No Brasil, o INCA coordenou a pesquisa, em parceria com a Universidade Federal do Ceará. O estudo está em fase final de redação e será publicado em 2019 em uma revista científica internacional.