Estudo que analisou os níveis plasmáticos da molécula-1 da lesão renal (pKIM-1) entre pacientes com massa renal suspeita de malignidade demonstrou em duas coortes independentes que pKIM-1 elevado pré-nefrectomia está associado ao risco aumentado de encontrar carcinoma de células renais no momento da cirurgia. Os resultados foram publicados no Journal of Clincal Oncology e apoiam o papel potencial do pKIM-1 como biomarcador diagnóstico e prognóstico em pacientes com massas renais suspeitas. Fábio Schutz (foto), oncologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, comenta os resultados.
Tanto os carcinomas de células claras quanto os de células renais papilares (CCRs) superexpressam a molécula-1 da lesão renal (KIM-1). Análise coordenada por pesquisadores do Dana-Farber Cancer Institute avaliou se o KIM-1 plasmático (pKIM-1) pode ser uma ferramenta útil de estratificação de risco entre pacientes com massas renais suspeitas.
O nivel pKIM-1 pré-nefrectomia foi medido em duas coortes independentes de pacientes com massas renais. A coorte 1, do estudo prospectivo K2, incluiu 162 pacientes com CCR de células claras (casos) e 162 pacientes com massas renais benignas (controles). A Coorte 2 incluiu 247 pacientes com massas renais pequenas (cT1a) de um biorrepositório acadêmico, dos quais 184 tinham CCR. A análise considerou a relação entre pKIM-1, patologia cirúrgica e resultados clínicos.
Os resultados de Xu et al. revelam que na Coorte 1, o pKIM-1 distinguiu CCR versus massas benignas com área sob a curva operacional do receptor (AUC-ROC, 0,81 [IC 95%, 0,76 a 0,86]). Na Coorte 2 (somente cT1a), o pKIM-1 distinguiu CCR versus massas benignas (AUC-ROC, 0,74 [IC 95%, 0,67 a 0,80]) e a adição de pKIM-1 a um nomograma estabelecido para prever malignidade melhorou a AUC do modelo -ROC (0,65 [IC 95%, 0,57 a 0,74] v 0,78 [IC 95%, 0,72 a 0,85]). Um ponto de corte de pKIM-1 identificado usando a Coorte 2 demonstrou sensibilidade de 92,5% e especificidade de 60% para identificar CCR na Coorte 1.
No acompanhamento de longo prazo de casos de CCR (Coorte 1), os autores descrevem que maior pKIM-1 pré-nefrectomia foi associado a pior sobrevida livre de metástases (razão de risco multivariável [HR] 1,29 por unidade de aumento no log pKIM-1, IC 95%, 1,10 a 1,53) e sobrevida global (SG multivariável HR 1,31 por unidade de aumento no log pKIM-1, IC 95%, 1,10 a 1,54). No acompanhamento de longo prazo da Coorte 2, não ocorreram eventos metastáticos, consistentes com o prognóstico favorável do CCR cT1a ressecado.
“Entre pacientes com massas renais, o pKIM-1 está associado a patologia maligna, pior sobrevida livre de metástases e risco de morte”, afirmam os autores, destacando que pKIM-1 pode ser útil para selecionar pacientes com massas renais para intervenção versus vigilância.
Este estudo é bastante interessante e tenta trazer para a clínica a possibilidade de utilizar um exame de sangue para avaliar a probabilidade de determinado nódulo renal suspeito ser de origem maligna ou benigna. Seria um grande avanço, pois infelizmente não existe atualmente nenhum tipo de marcador sérico para detecção tumores malignos renais", avalia Fabio Schutz. "Mais importante ainda seria a possibilidade de avaliar o risco de desenvolvimento de metástases de acordo com o nível sérico de KIM1 plasmático. Novos estudos devem ser realizados para validar o uso da dosagem sérica de KIM1 plasmática nestes cenários", conclui.
Referência: Wenxin Xu et al., Plasma Kidney Injury Molecule-1 for Preoperative Prediction of Renal Cell Carcinoma Versus Benign Renal Masses, and Association With Clinical Outcomes. JCO 0, JCO.23.00699 DOI:10.1200/JCO.23.00699