Estudo que buscou identificar os elementos que contribuem para o envolvimento de pacientes na pesquisa clínica em câncer identificou 58 fatores que pesam na participação efetiva dos pacientes em ensaios clínicos. “Esta revisão fornece um conjunto de recomendações práticas que podem ser utilizadas pela comunidade de pesquisa em câncer”, destacam os autores. O oncologista Fábio Franke (foto) comenta os resultados.
Esforços feitos para formalizar e conceituar o envolvimento dos pacientes levaram a iniciativas internacionais, como o INVOLVE UK, o Patient-Centred Outcomes Research Institute nos Estados Unidos (PCORI), a Canada's Strategy for Patient-Oriented Research (SPOR), assim como estimularam ferramentas como o Guidance for Reporting Involvement of Patients and the Public (CRIPP). Em comum, são iniciativas que buscam fornecer métodos e princípios para ajudar a envolver os pacientes na pesquisa clínica.
Nesta revisão da literatura, o objetivo de van der Graaf e colegas foi fornecer uma síntese dos elementos que contribuem para formas bem-sucedidas e significativas de envolver pacientes oncológicos em diferentes estágios da pesquisa em câncer.
A revisão considerou uma pesquisa bibliográfica no PubMed de artigos originais publicados entre 2012 e o início de 2023. No total, foram identificados 3.132 artigos, dos quais 152 foram avaliados quanto à elegibilidade. Trinta e três artigos atenderam aos critérios de inclusão predefinidos e foram submetidos a um checklist de qualidade.
Os resultados foram relatados no ESMO Open e revelam que o envolvimento dos pacientes ocorreu mais frequentemente na fase de desenvolvimento dos ensaios clínicos em câncer (85%) e foi contínuo e integrado ao longo de todo o ciclo de vida da pesquisa (67%). No total, foram identificados 58 elementos de envolvimento bem-sucedido dos pacientes, como funções e responsabilidades claramente definidas dos parceiros dos pacientes, assim como contribuições de vários pacientes para garantir a diversidade e pontos de contato regulares no projeto. “Todos esses elementos podem ser aplicados em estudos futuros, desde a fase de planejamento, até a divulgação dos resultados do estudo”, descreve a análise.
Entre os elementos identificados na revisão, a comunicação aberta e um ambiente colaborativo de envolvimento são considerados fatores críticos. “Independentemente da estratégia que uma organização escolha ao envolver os pacientes nas suas atividades de pesquisa em câncer, é necessário manter e cultivar continuamente as relações entre pacientes e parceiros, pois é um processo evolutivo que exige um certo grau de flexibilidade”, recomendam os autores.
No processo de colaboração, van der Graaf e colegas também enfatizam a importância de abrir espaço para o feedback dos pacientes, valorizando as perspectivas e experiências do participante de pesquisa, agora visto como um parceiro ativo.
O estudo de revisão lembra que o envolvimento dos pacientes se tornou gradualmente um componente central para a pesquisa em câncer nas últimas duas décadas e comprovou os seus múltiplos benefícios. “As perspectivas dos pacientes e cuidadores sobre diversas atividades de pesquisa ajudaram a definir prioridades de pesquisa, eliminaram estudos irrelevantes para os pacientes, melhoraram a qualidade geral da pesquisa, aumentaram a conscientização sobre as necessidades e direitos dos pacientes e, como resultado, moldaram uma pesquisa mais centrada no paciente, que passou de mero participante de pesquisa para parceiro de pesquisa ativo e envolvido”, analisam.
Para Fábio Franke, Presidente da Aliança Pesquisa Clínica Brasil, Coordenador do Comitê de Pesquisa Clínica da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e investigador principal do Centro de Pesquisa Clínica ONCOSITE, a ideia de envolver os pacientes no desenho, desenvolvimento e acompanhamento das pesquisas clínicas é fundamental na proteção dos seus direitos e prioridades. “Assim, evitamos estudos pouco relevantes e garantimos a qualidade de vida dos voluntários e seu engajamento, evitando também procedimentos e terapias desnecessárias”, diz. “Desta forma, os ensaios clínicos podem refletir na realidade as verdadeiras necessidades não atendidas, incorporar novas tecnologias que possam de fato ser utilizadas e aumentar a conscientização geral das pessoas sobre a importâncias das pesquisas clínicas”, analisa.
Franke considera que o maior envolvimento dos pacientes também colabora para maior inclusão de participantes de diversos grupos étnicos, “trazendo equidade e participação ativa nas decisões. Iniciativas como essas precisam ser estimuladas e multiplicadas também no Brasil", destaca.
A íntegra do estudo está disponível no Esmo Open em acesso aberto.
Referência: Open Access. Published:March 15, 2024 DOI: https://doi.org/10.1016/j.esmoop.2024.102947