Terminou no dia 4/11, no Rio de Janeiro, o encontro de experts que resultou nas recomendações do I Consenso Brasileiro em Câncer de Próstata Avançado, iniciativa que reuniu a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). O conjunto das recomendações vai gerar dois documentos que serão publicados no periódico da SBU e também na revista da SBOC.
Quarenta questões foram avaliadas por 18 painelistas em quatro horas de debates, com a moderação do oncologista André Sasse, da Unicamp. O objetivo foi definir recomendações para o câncer de próstata avançado, tanto no cenário hormônio sensível quanto na doença resistente a castração.
"Foi um encontro único, que permitiu debater amplamente questões que concentram a atenção da comunidade médica no Brasil e no mundo", resumiu Igor Morbeck, do Grupo Brasileiro de Tumores Urológicos, que durante o encontro apresentou as últimas duas questões do consenso. Afinal, qual o melhor tratamento para pacientes com resposta a docetaxel e progressão em menos de três meses? E para aqueles que respondem à quimioterapia e progridem da doença em período superior a três meses?
"Existem várias sequências de tratamento possíveis e todas foram bastante debatidas no consenso de experts, inclusive a partir de alguns parâmetros, como por exemplo a resposta à quimioterapia e hormonioterapia prévias, o grau inicial de Gleason e outras variáveis que, como essas, podem estar associadas ao prognóstico do paciente", explicou Morbeck.
As duas últimas perguntas do consenso exploraram exatamente o cenário da doença resistente a castração e a verdade é que não há uma resposta única. "Para pacientes que progrediram à quimioterapia inicial com docetaxel, a literatura tem demonstrado vários esquemas possíveis. Tanto enzalutamida como abiraterona são drogas de escolha, assim como o radium-223 e o cabazitaxel, que no estudo TROPIC demonstrou na análise de subgrupos benefícios significativos principalmente em pacientes que haviam progredido nos primeiros três meses. Então, para pacientes muito sintomáticos e grande volume de doença, cabazitaxel talvez seja a melhor escolha nesse cenário", acrescenta.
As recomendações do I Consenso Brasileiro em Câncer de Próstata Avançado estão em linha com grandes recomendações internacionais. "As opções são todas aceitáveis. Enzalutamida, abiraterona, cabazitaxel e o radium 223, o Xofigo, são todas drogas de escolha após falha a quimioterapia. Essa mesma pergunta foi feita em Saint Gallen e trouxemos para cá esse debate de sequenciamento, sem nenhuma pretensão de apontar a superioridade de uma droga sobre a outra, porque não temos esse dado na literatura", diz o especialista.
Em síntese, para pacientes que falham a castração hormonal existem quimioterápicos ou hormonioterápicos de última geração. “O tempo de resposta pode influenciar na decisão e ajudar a discernir qual a melhor escolha, lembrando que o radium-223 é também uma opção a ser considerada pré ou pós-quimioterapia em pacientes sintomáticos, assim como não existe preferência entre abiraterona ou enzalutamida, ambas igualmente como opções válidas no cenário pré ou pós-quimioterapia”, reforça Fernando Maluf, do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes (COAEM).
Castração dependente
“Consensualmente, o que ficou claro na doença castração dependente é que o tratamento compreende castração hormonal isolada em pacientes com baixo volume de doença ou hormonioterapia associada à quimioterapia na doença de alto volume”, diz Maluf, do COAEM. Ele observa que em pacientes sensíveis a castração o consenso não recomendou o uso de drogas que evitam complicações ósseas, como denosumab ou ácido zoledrônico.