A radioterapia adjuvante hipofracionada para câncer de mama inicial prevê 15 ou 16 frações (fr) como padrão de tratamento. O estudo FAST avaliou os efeitos a longo prazo para os tecidos normais da mama e os resultados de controle local após regime encurtado, de apenas 5 frações, uma vez por semana. Agora, resultados de 10 anos comparando os dois regimes de tratamento estão em artigo de Brunt et. al., no Journal of Clinical Oncology (JCO). O médico especialista em radioterapia Robson Ferrigno (foto), Coordenador dos Serviços de Radioterapia dos Hospitais BP Paulista e BP Mirante, analisa os achados.
Neste estudo, mulheres com idade ≥ 50 anos com carcinoma invasivo de baixo risco (pT1-2 pN0, tumores até 3 cm e axila negativa) foram randomizadas para 50 Gy em 25 frações de 2Gy, cinco vezes por semana; 30Gy em cinco frações de 6Gy uma vez por semana ou 28,5Gy em cinco frações de 5,7Gy uma vez por semana.
O objetivo principal foi a avaliação das alterações tardias na mama irradiada e o objetivo secundário foi o controle de doença na mama ipsilateral. Odds ratios (ORs) das análises longitudinais compararam os dois regimes.
Brunt et al. reportam que as taxas de incidência cumulativa de alterações na mama irradiada em 5 e 10 anos foram maiores com 30 Gy, especialmente retração e endurecimento. Das 915 mulheres recrutadas em 18 centros do Reino Unido (2004-2007), fotografias de 5 anos estavam disponíveis para 615/862 (71%) das pacientes elegíveis. As ORs para alteração na aparência fotográfica da mama foram 1,64 (IC 95%, 1,08 a 2,49; P = 0,019) para 30 Gy e 1,10 (IC 95%, 0,70 a 1,71; P = 0,686) para 28,5 Gy versus 50 Gy.
A estimativa de α / β para o acompanhamento fotográfico foi de 2,7 Gy (IC 95%, 1,5 a 3,9 Gy), indicando que um cronograma de 5 fr de 28 Gy (IC 95%, 26 a 30 Gy) é tão eficaz quanto 50 Gy / 25 fr. As ORs para qualquer alteração no tecido da mama (encolhimento, endurecimento, telangiectasia, edema) foram 2,12 (IC 95%, 1,55 a 2,89; P <0,001) para 30 Gy e 1,22 (IC 95%, 0,87 a 1,72; P = 0,248) para 28,5 Gy versus 50 Gy.
Após acompanhamento médio de 9,9 anos, os autores descrevem 11 eventos ipsilaterais de câncer de mama (50 Gy: 3; 30 Gy: 4; 28,5 Gy: 4) e 96 mortes (50 Gy: 30; 30 Gy: 33; 28,5 Gy: 33). “As alterações tardias na mama irradiada em 10 anos, tais como, retração, endurecimento, telangiectasia e edema, foram significativamente mais frequentes nas mulheres tratadas com 30Gy em cinco frações (p < 0,001). Não houve diferença entre os grupos tratados com 50Gy em 25 frações e 28,5Gy em 5 frações. Com relação ao controle local não houve diferença entre os grupos, porém, o estudo não possui poder estatístico suficiente para esse desfecho”, esclarece Ferrigno. “A recidiva local foi significativamente baixa (estimativa em 10 anos de 1,3% incluindo todas pacientes), devido às características das participantes selecionadas. Mais de 85% delas também foram tratadas com hormonioterapia adjuvante, o que indica perfis com receptores de estrógeno positivos mais frequentes”, ressalta.
Em resposta aos resultados de 10 anos do estudo START, regimes de 15 ou 16 frações são opções preferenciais de fracionamento de dose para radioterapia da mama inteira, como preconizado pela ASTRO. Nesse contexto, os dados de longo prazo apresentados agora pelo estudo FAST mostram que “para pacientes com baixo risco de recaída e para quem visitas diárias de 3 ou 5 semanas não são possíveis por causa de fragilidade ou comorbidades, 28 Gy em 5 frações com programação semanal podem ser uma alternativa apropriada em comparação com nenhum tratamento”, argumentam os autores.
“O estudo foi desenvolvido para amenizar o desconforto das pacientes que residem longe dos centros de radioterapia, que estão com saúde frágil ou com comorbidades. Esse problema é relativamente frequente no Brasil, principalmente em áreas de poucos recursos. Além disso, no contexto da pandemia do COVID-19, a redução da exposição dos pacientes e dos profissionais de saúde é uma das medidas importantes de mitigação em ambiente hospitalar”, observa Ferrigno. “Permanece a dúvida se o perfil genético das mulheres brasileiras e latino americanas é semelhante ao das inglesas com relação à resposta a radioterapia em toda a mama. Portanto, é razoável adotar essa estratégia para pacientes elegíveis e em situações de exceção, como idosas, de alto risco para o contágio do COVID-19, frágeis, com comorbidades e que residem longe do serviço de radioterapia”, conclui.
Referência: Brunt, A. M., Haviland, J. S., Sydenham, M., et al. Ten-Year Results of FAST: A Randomized Controlled Trial of 5-Fraction Whole-Breast Radiotherapy for Early Breast Cancer. Journal of Clinical Oncology, JCO.19.02750. doi:10.1200/jco.19.02750