A gravidez aumenta o risco de morte em mulheres com câncer de mama? Estudo canadense que avaliou uma coorte de 7553 mulheres com câncer de mama mostrou que a sobrevida global em 5 anos foi de 87,5% para aquelas sem gravidez, 82,1% para mulheres com câncer de mama associado à gravidez e de 96,7% para mulheres que tiveram gravidez 6 meses ou mais após o diagnóstico de câncer de mama. A diferença na não foi estatisticamente significativa.
Nas últimas décadas, a idade materna no primeiro parto aumentou em aproximadamente 5 anos na América do Norte, assim como aumentou a taxa de fertilidade entre as mulheres com mais de 35 anos. Nesse contexto, compreender o efeito da gravidez na sobrevida de pacientes com câncer de mama pode ter impacto no aconselhamento e tratamento dessas mulheres.
“Publicado na revista JAMA Oncology em março de 2017, o estudo de Iqbal e colaboradores apresenta respostas importantes à questão do efeito da gestação na sobrevida de pacientes com câncer de mama”, avalia o médico Paulo Perin, especialista em reprodução humana. “Confirmando trabalhos recentes, os autores contestam uma série de estudos realizados a partir da década de 1950 que propunham que a gestação poderia afetar negativamente a sobrevida de mulheres com câncer de mama quando as duas condições ocorrem simultaneamente”, acrescenta.
Perin ressalta que apesar da abordagem retrospectiva e de limitações metodológicas apresentadas pelos próprios autores, o tamanho amostral da análise (cerca de 7550 mulheres com idade média de 39 anos no diagnóstico do câncer de mama) é suficientemente robusto para apoiar os resultados obtidos no estudo.
Métodos
Este estudo de coorte retrospectivo utilizou dados coletados pelo sistema de saúde de Ontário, compreendendo 7553 mulheres entre 20 e 45 anos com câncer de mama invasivo no momento do diagnóstico, no período de 1º de janeiro de 2003 a 31 de dezembro de 2014.
As mulheres foram classificadas nos seguintes grupos de exposição: nenhuma gravidez, gravidez antes do câncer de mama, câncer de mama associado à gravidez e gravidez após câncer de mama.
Resultados
Entre as 7553 mulheres do estudo (média de idade ao diagnóstico de 39,1 anos, mediana de 40 anos, intervalo, 20-44 anos), a taxa de sobrevida em 5 anos foi de 87,5% (95% IC, 86,5% -88,4%) para mulheres sem gravidez, 85,3% (IC95%: 82,8% -87,8%) para mulheres com gestação antes do câncer de mama (razão de risco ajustada pela idade, 1,03; IC95%, 0,85-1,27; P = 0,73) e 82,1% (95% IC, 78,3% -85,9%) para mulheres com câncer de mama associado à gravidez (razão de risco ajustada pela idade, 1,18; IC95%: 0,91-1,53; P = 0,20). A taxa de sobrevida em 5 anos foi de 96,7% (95% IC, 94,1% -99,3%) para mulheres que tiveram gravidez 6 meses ou mais após o diagnóstico de câncer de mama versus 87,5% (95% IC, 86,5% -88,4%).
Em conclusão, a gravidez não afetou negativamente a sobrevida em mulheres com câncer de mama. Para aquelas sobreviventes de câncer de mama que desejam conceber, o risco de morte é menor quando a gravidez ocorre 6 meses ou mais após o diagnóstico.
“As principais conclusões do estudo, que mostram que a gravidez não diminui a sobrevivência em mulheres com câncer de mama e que a gestação já poderia ocorrer 6 meses após o diagnóstico da doença, são informações importantes para que mastologistas, oncologistas, especialistas em medicina reprodutiva e obstetras tenham uma posição objetiva positiva com relação ao aconselhamento do futuro reprodutivo de pacientes diagnosticadas com câncer de mama em idade reprodutiva”, afirma o especialista.
Referência: Pregnancy and Survival in Women With Breast Cancer - Javaid Iqbal, MD; Eitan Amir, PhD, ChB, MB; Paula A. Rochon, MD, MPH, FRCPC; et al - JAMA Oncol. Published online March 9, 2017. doi:10.1001/jamaoncol.2017.0248