A ASCO publicou uma uma diretriz de prática clínica baseada em evidências para auxiliar na tomada de decisão clínica para pacientes com câncer de trato biliar ressecado. Publicado no Journal of Clinical Oncology (JCO), o guideline considera os resultados do estudo BILCAP, e recomenda que pacientes com câncer de trato biliar ressecado recebam quimioterapia adjuvante com capecitabina por um período de 6 meses. A publicação desta diretriz é de grande importância para guiar o tratamento adjuvante dos tumores de vias biliares. Até pouco tempo atrás, não tínhamos dados que respaldassem o uso de quimioterapia neste cenário”, afirma a oncologista Juliana Florinda Rêgo (foto), diretora do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG) e médica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Um Painel de Especialistas foi convocado para realizar uma revisão sistemática da literatura sobre terapia adjuvante para câncer de trato biliar ressecado e determinar se a terapia adjuvante, incluindo quimioterapia à base de fluoropirimidina ou à base de gencitabina e/ou radioterapia, é recomendada para pacientes com câncer de vias biliares ressecado? Três ensaios clínicos randomizados de fase III, um estudo de fase II e 16 estudos retrospectivos que preencheram os critérios de inclusão.
Recomendações
Com base em evidências de um ensaio clínico randomizado de fase III, a diretriz recomenda que os pacientes com câncer de trato biliar ressecado devem receber quimioterapia adjuvante com capecitabina por um período de 6 meses. No ensaio clínico randomizado controlado de fase III BILCAP (Adjuvant Capecitabine for Biliary Tract Cancer), a capecitabina foi administrada numa dose de 1250 mg/m2 duas vezes por dia nos dias 1 a 14 do ciclo de 3 semanas durante 24 semanas (oito ciclos). Os autores observam que a dose de capecitabina também pode ser determinada por práticas institucionais e regionais.
Pacientes com colangiocarcinoma extra-hepático ou câncer de vesícula biliar e uma margem de ressecção cirúrgica microscopicamente positiva (ressecção R1) podem receber quimiorradioterapia. Recomenda-se uma abordagem compartilhada de tomada de decisão, considerando o risco de dano e o potencial de benefício associado à radioterapia em pacientes com colangiocarcinoma extra-hepático ou câncer de vesícula biliar.
O Painel de Especialistas observa que, no estudo prospectivo SWOG0809 de braço único de quimiorradioterapia, a radiação foi administrada em uma dose de 45 Gy para linfáticos regionais e 54 a 59,4 Gy para o leito do tumor. No entanto, neste momento, a base de evidências não está suficientemente bem desenvolvida para fazer uma recomendação para dosagem ideal de radioterapia no contexto da quimioradioterapia.
“Os dados do BILCAP apresentados no congresso da ASCO em 2017 mostraram um ganho numericamente relevante na sobrevida global, porém sem significância estatística na análise por intenção de tratamento. Após ajuste para fatores prognósticos e também na análise por protocolo, alcançou-se significância estatística, o que levou, a partir de então, ao uso da capecitabina como tratamento adjuvante por boa parte da comunidade oncológica, mesmo antes da publicação do artigo”, explica Juliana.
A especialista observa que diante de um estudo que ainda não foi publicado e de dados que atingiram significância estatística após algumas análises adicionais, ter um guideline da ASCO recomendando o seu uso reforça o que muitos já vinham fazendo na prática clínica. “Para os oncologistas que ainda não tinham iniciado o uso da capecitabina nesse contexto, este guideline dá o respaldo necessário. Deve-se destacar, contudo, que a ausência do estudo publicado dificulta a liberação da medicação pela fonte pagadora”, conclui.
Informações adicionais estão disponíveis em www.asco.org/gastrointestinal-cancer-guidelines.
Referência: Adjuvant Therapy for Resected Biliary Tract Cancer: ASCO Clinical Practice Guideline - Rachna T. Shroff et al