Mulheres assintomáticas com risco médio para câncer de mama devem discutir com seus médicos sobre a necessidade do rastreamento com mamografia antes dos 50 anos de idade. Publicadas no Annals of Internal Medicine, em acesso aberto, as novas recomendações do American College of Physicians sugerem que os potenciais danos superam os benefícios na maioria das mulheres com idade entre 40 e 49 anos. O oncologista José Bines (foto), Coordenador do Serviço de Oncologia do Hospital São Vicente, no Rio de janeiro, e membro do Grupo Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama (GBECAM/LACOG), comenta as diretrizes.
O novo guideline avaliou recomendações que abordam o rastreamento do câncer de mama, incluindo as orientações da U.S. Preventive Services Task Force, American Cancer Society, American College of Radiology, American College of Obstetricians and Gynecologists, Canadian Task Force on Preventive Health Care, National Comprehensive Cancer Network, e da Organização Mundial da Saúde.
“As orientações da ACP representam uma convergência entre diferentes recomendações, ao mesmo tempo em que destacam pontos importantes que os médicos devem considerar na decisão compartilhada com seus pacientes sobre o rastreamento rotineiro do câncer de mama”, afirma o documento.
O guideline recomenda ainda que os médicos ofereçam rastreamento para câncer de mama a cada dois anos para mulheres de risco médio com idade entre 50 e 74 anos. Para mulheres com 75 anos ou mais ou em mulheres com expectativa de vida de até 10 anos, os médicos devem descontinuar a triagem para câncer de mama. As diretrizes observam ainda que em mulheres de risco médio de todas as idades, não deve ser utilizado o exame clínico das mamas para avaliar o câncer de mama.
“As diretrizes são perfeitamente adequadas e realistas como uma recomendação geral de saúde pública”, afirma o oncologista José Bines. Segundo o especialista, em países que têm o rastreamento instituído de forma rotineira e estabelecida, essas estratégias podem beneficiar a população e, ao mesmo tempo, diminuir o acesso a diagnósticos que não vão necessariamente trazer um benefício para as mulheres. “Existe uma preocupação com o overdiagnosis e overtreatment de estádios precoces e muito precoces, particularmente tumores in situ, que aumentou consideravelmente nos Estados Unidos, representando hoje 1/4 dos diagnósticos no país. Todas essas pacientes recebem o tratamento local ou sistêmico, e muitas delas, caso não tivessem esse diagnóstico, não teriam qualquer problema relacionado ao tumor da mama durante a vida”, observa.
“Obviamente que a recomendação é para populações específicas. Mulheres com risco aumentado, às vezes por questões de câncer hereditário, nada impede que em uma conversa entre médico e paciente a decisão seja realizar o exame a partir dos 40 anos, fazer anualmente ou mesmo se estender além dos 75 anos”, acrescenta.
No Brasil, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) recomenda a mamografia anual para as mulheres a partir dos 40 anos de idade. Já o Ministério da Saúde, conforme as Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama, recomenda o exame bienal para as mulheres a partir dos 50 anos de idade.
Segundo Bines, essa discussão sobre a idade recomendada para o início da realização da mamografia não é o ponto central. Ele ressalta que para a paciente que possui um seguro saúde, tem acesso, o entendimento pode ser distinto, e a decisão individual pode ser variável. Já na saúde pública, o problema é acesso. O foco deveria ser o diagnóstico feito de uma forma rápida, com tratamento adequado também oferecido da forma mais rápida possível. “Se o exame bienal para toda a população a partir dos 50 anos fosse realmente efetivo, e uma vez que se fizesse o diagnóstico, se iniciasse rapidamente o tratamento, já seria um enorme avanço. Nesse momento, nem acima de 50 anos se consegue fazer a mamografia na população como um todo”, alerta.
Referência: Screening for Breast Cancer in Average-Risk Women: A Guidance Statement From the American College of Physicians - Amir Qaseem, MD, PhD, MHA; Jennifer S. Lin, MD, MCR; Reem A. Mustafa, MD, MPH, PhD; Carrie A. Horwitch, MD, MPH; Timothy J. Wilt, MD, MPH; for the Clinical Guidelines Committee of the American College of Physicians * - Published: Ann Intern Med. 2019. - DOI: 10.7326/M18-2147