Estudo que combinou citogenética e sequenciamento de 37 genes de 471 pacientes da Associação Francesa de Leucemia Aguda (ALFA1200) produziu um modelo prognóstico simples e reprodutível para prever a sobrevida global (SG) em pacientes com leucemia mieloide aguda (LMA) com idade ≥ 60 anos. Os resultados foram publicados na Blood, em artigo de Itzykson et al.
Os avanços nos regimes de quimioterapia desafiaram o papel das terapias intensivas em diferentes neoplasias hematológicas. Assim, ferramentas de decisão foram desenvolvidas para separar os pacientes para os quais o tratamento intensivo é mandatório e não deve ser questionado (go-go) daqueles onde deve ser cuidadosamente considerado (slow-go) ou prontamente descartado (no-go).
Neste estudo, foram inscritos pacientes ≥60 anos de idade (idade média, 68 anos) tratados com esquema 7+3. Análises genômicas obtidas a partir de 37 genes de 471 pacientes discriminaram os padrões mutacionais nessa população e sua correlação com dados de sobrevida.
“Os padrões de mutação e SG diferiram entre os 84 pacientes com citogenética de baixo risco e os 387 pacientes com bom perfil citogenético (N=13), perfil de risco intermediário (n = 339) ou não avaliado (N=35). As mutações TP53 ([HR, 2,49; P = 0,0003) e KRAS (HR, 3,60; P = 0,001) foram preditores independente de pior resultado de SG em pacientes com citogenética de baixo risco. Naqueles sem citogenética de baixo risco, NPM1 (HR, 0,57; P = 0,0004), duplicação interna em tandem no gene FLT3 com razão alélica baixa (HR, 1,85; P = 0,0005) ou alta (HR, 3,51; P <10−4), DNMT3A (HR, 1,86; P <10−4), NRAS (HR, 1,54; P = 0,019) e mutações ASXL1 (HR, 1,89; P = 0,0003) foram preditores independentes de SG”, descreve a publicação.
Itzykson et al. também reportam que combinando risco citogenético e mutações nesses 7 genes, 39,1% dos pacientes poderiam ser classificados no nível "go-go" com sobrevida global em 2 anos de 66,1%; 7,6% seriam classificados no grupo "no-go", com sobrevida global em 2 anos de 2,8% e 3,3% no grupo “slow-go”, com SG em 2 anos de 39,1% (P <10−5). Nas 3 coortes de validação independentes, 31,2% a 37,7% e 11,2% a 13,5% dos pacientes foram classificados nos níveis go-go e no-go, respectivamente, com diferenças significativas de sobrevida global.
Para os autores, os dados indicam que a ferramenta ALFA é um modelo prognóstico simples, robusto e discriminante para pacientes com LMA ≥60 anos tratados com quimioterapia intensiva. “Identificamos preditores oncogenéticos de benefício de curto prazo (remissão) e longo prazo (SG) da quimioterapia intensiva. Desenvolvemos e validamos um modelo de decisão simples que contabilizou citogenética e mutações em 7 genes (NPM1, FLT3-ITD, DNMT3A, NRAS, ASXL1, KRAS e TP53) e identificou de forma reprodutível os pacientes com diferenças significativas na sobrevida global em várias coortes”, descrevem.
Esses achados ilustram a necessidade de estratificação de risco citogenético e genético de forma integrada em pacientes idosos com LMA antes do início do tratamento, para orientar as decisões de primeira linha na prática de rotina.
Este estudo foi financiado pelo Instituto Nacional do Câncer da França e pelo Ministério da Saúde francês.
Referência: Itzykson RA, Fournier E, Berthon C, Röllig C, Braun T, Marceau-Renaut A, Pautas C, Nibourel O, Lemasle E, Micol JB, Adès L, Lebon D, Malfuson JV, Gastaud L, Goursaud L, Raffoux E, Wattebled KJ, Rousselot P, Thomas X, Chantepie SP, Cluzeau T, Serve H, Boissel N, Terré C, Celli-Lebras K, Preudhomme C, Thiede C, Dombret H, Gardin CJ, Duployez N. Genetic Identification of AML Patients Older than 60 years Achieving Long-term Survival with Intensive Chemotherapy. Blood. 2021 May 27:blood.2021011103. doi: 10.1182/blood.2021011103. Epub ahead of print. PMID: 34046677