A oncologista Aline Lara Gongora (foto), médica do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, é primeira autora de estudo transversal publicado no JCO Global Oncology (LACOG 0420), que avaliou o impacto da pandemia de COVID-19 em ensaios clínicos em oncologia na América Latina. O oncologista Diogo Bastos é o autor sênior do trabalho.
Este estudo foi idealizado junto ao LACOG (Grupo Cooperativo de Oncologia Latino-Americano). Uma pesquisa com 22 perguntas sobre o impacto da pandemia COVID-19 em ensaios clínicos oncológicos foi enviada a 350 representantes de programas de pesquisa em instituições latino-americanas selecionadas, membros do Grupo Cooperativo de Oncologia Latino-Americano (LACOG).
Participaram do estudo 90 centros de pesquisa, 70 deles brasileiros. A maioria era parcialmente privado ou totalmente privado (n = 77; 85,6%) e tinha casos de COVID-19 confirmados na instituição (n = 57; 63,3%). O recrutamento de pelo menos alguns estudos foi suspenso em 80% (n = 72) dos centros, principalmente por decisão dos patrocinadores.
Os resultados indicam que a rotina dos ensaios clínicos foi afetada pelo cancelamento de consultas médicas, redução do comparecimento dos pacientes, redução da disponibilidade de outras especialidades e/ou alterações nos processos de acompanhamento. Políticas formais foram adotadas em 96,7% dos centros, incluindo monitorias e site initiation visits (SIVs) remotos, atendimentos por telemedicina, redução de dias de trabalho da equipe de pesquisa ou home office, procedimentos diferenciados de consentimento e envio de medicamentos orais diretamente para a casa dos pacientes.
“É importante ressaltar que os achados podem motivar futuras mudanças na condução de ensaios clínicos em oncologia, principalmente no que diz respeito à incorporação de tecnologias remotas à rotina dos centros de pesquisa”, destacam os autores.
Em conclusão, a pesquisa demonstrou que os ensaios clínicos de oncologia foram significativamente afetados durante a pandemia na América Latina. A incorporação de tecnologias para permitir procedimentos de protocolo remoto tem sido consistente e amplamente aplicada como uma estratégia de redução de risco, para proteger os pacientes e a equipe envolvida na pesquisa e cuidados com os pacientes.
“Sabemos o quanto a pesquisa clínica contribui com o avanço do tratamento do câncer, e manter a condução dos estudos clínicos é fundamental, mesmo durante uma pandemia, como a que estamos vivendo. Os resultados deste estudo vão ao encontro de pesquisas de outras regiões do mundo, que demonstraram um impacto significativo na pesquisa clínica durante a pandemia. Essas descobertas podem incentivar melhorias nos procedimentos dos estudos clínicos após a pandemia, e representar uma oportunidade para patrocinadores, investigadores e agências reguladoras reavaliarem procedimentos e melhorarem a experiência do paciente e da equipe durante a participação na pesquisa clínica”.