Radioterapia IMRT pode se tornar uma opção no tratamento do câncer de bexiga linfonodo positivo, como sugerem os resultados de ensaio clínico reportado em acesso aberto no Clinical Oncology. Quem comenta é o radio-oncologista Rodrigo Hanriot (foto), coordenador do serviço de Radioterapia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Neste ensaio clínico de Fase II (IMPART), pesquisadores do Royal Marsden NHS Foundation Trust e do Institute of Cancer Research de Londres avaliaram o uso de radioterapia com intensidade modulada (IMRT) em pacientes com câncer de bexiga linfonodo positivo.
“No estudo IMPART (Intensity-modulated Pelvic Node and Bladder Radiotherapy), nossa hipótese foi de que o uso de IMRT daria a melhor chance de maximizar a dose de radiação entregue aos tumores, minimizando a radiação fornecida às células saudáveis e, consequentemente, reduzindo o risco de efeitos tóxicos aos pacientes", disse Robert Huddart, do Royal Marsden, principal investigador do estudo.
Resultados
No total, 38 pacientes foram recrutados e tratados entre junho de 2009 e novembro de 2012; 22/38 (58%) tinham câncer de bexiga linfonodo positivo; 31/38 (81,6%) receberam quimioterapia neoadjuvante; 18/38 (47%) receberam quimioterapia concomitante; 37/38 (97%) pacientes realizaram radioterapia conforme protocolo.
As taxas de toxicidade gastrointestinal e geniturinária de grau 3 foram de 5,4 e 20,6%, respectivamente. Em 1 ano, a taxa de toxicidade tardia grau 3 foi de 5%; as taxas de sobrevida livre de recidiva pélvica em 1, 2 e 5 anos foram de 55%, 37% e 26%, respectivamente. A sobrevida global mediana foi de 1,9 anos (intervalo de confiança de 95% 1,1–3,8), com taxas de sobrevida global em 1, 2 e 5 anos de 68%, 50% e 34%, respectivamente.
“É possível administrar IMRT no câncer de bexiga linfonodo positivo e no câncer de bexiga de alto risco, com baixa toxicidade e baixas taxas de recorrência nodal pélvica. O controle a longo prazo parece ser possível em um subconjunto de pacientes. No entanto, os padrões de recaída sugerem que estratégias direcionadas à recorrência local e ao desenvolvimento de metástases distantes são necessárias para melhorar os resultados dos pacientes”, concluem os autores.
“No câncer de bexiga a identificação de linfonodos regionais comprometidos tem um profundo impacto no controle local, com redução de sobrevida câncer-específica de cerca de 67% para linfonodos negativos, para cerca de 31% quando de linfonodos positivos, com alguns autores sugerindo seu tratamento como se doença metastática. Se radio-quimioterapia pode ser considerada uma alternativa à cirurgia em doença localizada em pacientes não candidatos à cirurgia, quando do acometimento linfonodal, esta opção não existia até o momento”, observa Hanriot.
O radio-oncologista explica que o estudo IMPART inseriu o conceito de quimio-radioterapia para os pacientes com câncer de bexiga e linfonodos comprometidos, não operados. “Apesar de toxicidade aceitável com o uso de IMRT, a sobrevida livre de recidiva loco-regional pélvica ocorreu em 47% dos pacientes, e somente 29% deles estarem livres de recidiva em 5 anos. Não são números excepcionais, porém melhores do que os dados atualmente disponíveis”, avalia.
Para Hanriot, o estudo IMPART se apresenta mais como gerador de hipótese do que como recomendação de mudança de prática clínica, porém insere opção de tratamento para situações clínicas em que somente a quimioterapia seria usualmente empregada. “Identifica claramente que há subgrupo populacional que pode se beneficiar com esta conduta, apesar de não diferenciá-lo claramente. Certamente sua publicação estimula novos estudos para melhor classificação de risco dos pacientes com câncer de bexiga e sugere a possibilidade de abordagens diferentes em doença com potencial tão agressivo, com impacto tanto para a expectativa de vida quanto para sua qualidade”, conclui.
Referências:
Tan, M. P., Harris, V., Warren-Oseni, K., McDonald, F., McNair, H., Taylor, H., … Huddart, R. A. (2019). The Intensity-Modulated Pelvic Node and Bladder Radiotherapy (IMPART) Trial: A Phase II Single-Centre Prospective Study. Clinical Oncology. doi:10.1016/j.clon.2019.07.017
Gschwend JE, Dahm P, Fair WS. Disease specific survival as endpoint of outcome for bladder cancer patients following radical cystectomy. Eur Urol 2002;41(4)440-8