Estudo multicêntrico de fase II avaliou o anticorpo monoclonal anti CD-30 brentuximabe vedotin (Bv) antes e após o esquema padrão de doxorrubicina, vinblastina e dacarbazina (AVD) em pacientes com linfoma de Hodgkin com 60 anos ou mais, sem tratamento prévio. Os resultados mostram que a adição de Bv trouxe benefício de sobrevida livre de progressão e sobrevida global nessa população de pacientes. O hematologista Carlos Chiattone (foto), coordenador do Centro de Linfomas do Núcleo de Oncologia do Hospital Samaritano e professor titular da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, comenta os resultados do trabalho publicado no Journal of Clinical Oncology.
O Brentuximabe vedotin é um tratamento muito eficaz e com eventos adversos bem tolerados em pacientes com linfoma de Hodgkin clássico (LH). Inicialmente aprovado pelos principais órgãos regulatórios internacionais para o tratamento do LH após falha do transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas (auto TCTH) ou após falha de pelo menos duas linhas anteriores de quimioterapia em pacientes não candidatos ao transplante, o brentuximab vedotin posteriormente foi indicado como terapia de consolidação após o auto TCTH em pacientes com alto risco de recaída. No entanto, outras indicações do BV no tratamento do LH têm sido estudadas.
“O BV mostrou eficácia promissora quando usado em segunda linha antes do auto HSCT. Mais recentemente, o estudo ECHELON-1 demonstrou que a BV combinada com AVD para o tratamento do estágio avançado recentemente diagnosticado de Linfoma de Hodgkin melhorou a sobrevida livre de progressão quando comparado ao ABVD (adriamicina, bleomicina, vimblastina e dacarbazina) padrão”, explica o hematologista. “Particularmente em decorrência dos eventos adversos do tratamento, os resultados com ABVD nos pacientes idosos com LH são inferiores aos obtidos nos pacientes mais jovens”, observa.
O estudo
O estudo inscreveu pacientes com mediana de 69 anos (variação de 60 a 88 anos), 63% do sexo masculino, 81% com estágio clínico de III a IV, que após duas doses iniciais de Bv (1,8 mg/kg uma vez a cada 3 semanas) receberam seis ciclos de quimioterapia AVD, seguidos de quatro doses de Bv como dose de consolidação nos pacientes que responderam. Da população avaliada, 52% tinham grau 3 e 4 no escore de comorbidades geriátricas e 12% reportaram prejuízo funcional nas atividades diárias no momento do diagnóstico.
Foram elegíveis 48 pacientes. Desses, 37 (77%) completaram seis ciclos de AVD e 35 pacientes (73%) receberam pelo menos uma dose de consolidação de Bv. A resposta global e as taxas de remissão completa após a dose inicial de Bv foram 18 (82%) de 22 e 8 (36%) de 22, respectivamente, e 40 (95%) de 42 e 34 (90%) de 42, respectivamente, após seis ciclos de AVD entre 42 pacientes avaliáveis pela resposta.
Em relação ao perfil de segurança, os autores descrevem que 20 (42%) dos 48 pacientes apresentaram um evento adverso de grau 3 a 4, mais comumente neutropenia (44%), neutropenia febril e pneumonia (8%) ou diarreia (6%); 33% apresentaram neuropatia periférica de grau 2, que foi reversível na maioria dos pacientes. Por intenção de tratar, a sobrevida livre de eventos em 2 anos, a sobrevida livre de progressão e a sobrevida global foram de 80%, 84% e 93%, respectivamente.
Em conclusão, o tratamento sequencial com brentuximabe-vedotin foi bem tolerado e associado a resultados robustos, sustentam os autores. "O estudo de Evens et al. publicado no JCO mostrou bom resultados do BV administrado sequencialmente antes e depois do AVD em pacientes idosos (com mediana de idade de 69 anos) recém diagnosticados. A estratégia foi associada a um bom perfil de segurança e tolerabilidade aceitável”, afirma Chiattone.
Para o hematologista, embora esta estratégia possa representar uma nova opção terapêutica em pacientes idosos com LH, estes resultados precisam ser testados no contexto de estudo randomizado. “A questão do custo destas novas tecnologias também precisa ser considerada, particularmente em países com escassez de recursos como o nosso”, avalia.
Referência: Multicenter Phase II Study of Sequential Brentuximab Vedotin and Doxorubicin, Vinblastine, and Dacarbazine Chemotherapy for Older Patients With Untreated Classical Hodgkin Lymphoma - DOI: 10.1200/JCO.2018.79.0139 Journal of Clinical Oncology