Onconews - Imunoterapia e vacinação anual contra a gripe

Pulm__o_Horiz_NET_OK.jpgOs pacientes com câncer de pulmão tratados com inibidores de checkpoint PD-1/PD-L1 podem ter maior risco de eventos adversos após receber a vacinação sazonal contra a gripe. Os resultados do primeiro estudo a investigar esse efeito1 serão apresentados na Conferência Europeia sobre o Câncer do Pulmão (ELCC 2017), que acontece entre os dias 5 e 8 de maio em Genebra, Suíça.

“Os dados oferecem a primeira sugestão de uma possível contraindicação com dois tratamentos de rotina nesta população”, disse Sacha Rothschild, da Divisão de Oncologia do University Hospital Basel, Suíça. "O uso de inibidores de checkpoint é agora a prática clínica padrão para muitos pacientes oncológicos, e esses mesmos pacientes - particularmente aqueles com câncer de pulmão - também enfrentam um risco aumentado de complicações da gripe. Embora a vacinação de rotina seja recomendada há bastante tempo para pacientes com câncer, existe a preocupação de que poderia desencadear uma resposta imune exagerada neste subgrupo que recebe inibidores de checkpoint", acrescentou Rothschild, advertindo que estes resultados preliminares devem ser testados em um estudo maior.
 
Métodos
 
O estudo prospectivo incluiu 23 pacientes (idade média 58,7 anos), a maioria com câncer de pulmão não pequenas células (n=16), mas também com carcinoma de células renais (n=4) e melanoma (n=3).
 
Pouco mais de metade dos doentes tinham recebido pelo menos duas linhas anteriores de quimioterapia e todos estavam em tratamento com o inibidor de PD-1/PD-L1 nivolumabe, com exceção de um paciente que estava em tratamento com o pembrolizumabe.
 
Os pacientes foram vacinados contra a gripe com uma vacina trivalente2 entre outubro e novembro de 2015 e observado em relação à segurança, eficácia e frequência de eventos adversos imuno-relacionados (IRAEs). Um grupo controlo de 10 parceiros saudáveis com a mesma idade dos doentes também recebeu a mesma vacina.
 
Resultados
 
Todos os pacientes mostraram resposta imune adequada à vacina, desenvolvendo anticorpos contra as três estirpes virais. Não foram observados eventos adversos graves atribuíveis à vacina nos primeiros 30 dias após a vacinação. A taxa de irritação local (grau 1) no local da injeção (o músculo deltóide) foi semelhante em doentes e no grupo controle. Nenhuma infecção por gripe foi diagnosticada em nenhum dos pacientes vacinados durante a temporada 2015/2016.
 
No entanto, foi observada uma frequência não usual de eventos adversos imuno-relacionados (52,2%), com 6 pacientes (26,1%) experimentando irAEs graves de graus 3 ou 4.
 
"Esta frequência é significativamente superior à taxa de irAEs em doentes não vacinados tratados com inibidores de PD-1/PD-L1", disse Rothschild, acrescentando que a taxa esperada é de cerca de 25,5% no seu centro (9,8% para os eventos de graus 3 ou 4) e uma taxa de 30-35% é geralmente relatada na literatura. "Nossa hipótese é que a vacina resulta em uma ativação intensa do sistema imune nesta população."
 
Os eventos adversos imuno-relacionados mais comuns foram erupções cutâneas e artrite (13% cada), seguido de colite e encefalite (8,7% cada), hipotireoidismo, pneumonite e neuropatia (4,3% cada).
 
Como o bloqueio do PD-1 pode aumentar a resposta imune e induzir a uma síndrome inflamatória, os pesquisadores mediram as quimiocinas inflamatórias no sangue periférico dos pacientes para avaliar a possível indução de uma síndrome inflamatória subclínica. Nenhuma alteração significativa nos níveis de quimiocinas inflamatórias foi observada em doentes ou controles durante a fase inicial após a vacinação.
 
"Embora a taxa observada de irAEs em nossa coorte seja alarmante, acreditamos que há uma preocupação particular para complicações graves de uma infecção por gripe, incluindo pneumonia e insuficiência respiratória em pacientes com câncer de pulmão em imunoterapia devido a desordens pulmonares concomitantes", observou Rothschild.
 
"Alguns desses pacientes tiveram ressecção prévia de lóbulos pulmonares ou mesmo uma pneumonectomia e, portanto, têm reservas limitadas devido ao pequeno volume pulmonar. Quando pesamos os potenciais benefícios e riscos da vacinação sazonal contra gripe para pacientes submetidos a um único agente de bloqueio do PD-1 ou PD-L1 - particularmente aqueles com câncer de pulmão - atualmente aconselhamos uma decisão caso a caso até que tenhamos resultados de coortes maiores ", afirmou.
 
Segundo o professor Egbert Smit, do Netherlands Cancer Institute, em Amsterdã, o estudo mostra o quanto ainda é preciso aprender sobre o uso ideal de inibidores de checkpoint em pacientes com câncer de pulmão. “Esse é o primeiro trabalho a investigar o impacto da vacinação contra a gripe nesses pacientes e há uma dica que atualmente os colocamos em maior risco de toxicidades graves, incluindo encefalite. No entanto, até que tenhamos dados sobre uma coorte maior, preferencialmente em um estudo prospectivo controlado, na minha instituição nós defendemos a vacinação contra gripe, independente do tratamento concomitante com inibidores de checkpoint", concluiu.
 
Referências:
 
1 - Abstract 112P_PR: 'Immune response and adverse events to influenza vaccine in cancer patients undergoing PD-1 blockade' will be on Poster Display on 6 May 12:30 CEST.
 
2 - Vaccination protecting against three different influenza strains.