Artigo de Reck et al. no Journal of Clinical Oncology reporta resultados de 5 anos de acompanhamento do ensaio de Fase III (KEYNOTE-024) que avaliou pembrolizumabe como primeira linha de tratamento em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) sem alterações acionáveis (EGFR ou ALK) e com tumores com expressão de PD-L1 ≥ 50%. O oncologista Carlos Teixeira (foto), coordenador da oncologia torácica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, analisa os resultados.
Este ensaio clínico controlado randomizou pacientes (1: 1) para receber pembrolizumabe (200 mg a cada 3 semanas por até 35 ciclos) ou quimioterapia à base de platina. O cruzamento (crossover) do braço de intervenção para o braço controle foi permitido para pacientes em progressão da doença. O endpoint primário foi sobrevida livre de progressão (SLP) e sobrevida global (SG) foi o endpoint secundário.
Trezentos e cinco pacientes cumpriram os critérios de elegibilidade, randomizados para pembrolizumabe (N= 154) e quimioterapia (N=151). Os autores descrevem que o tempo médio desde a randomização até o corte de dados (1º de junho de 2020) foi de 59,9 (55,1-68,4) meses. “Entre os pacientes inicialmente designados para quimioterapia, 99 receberam terapia anti-PD-1 ou PD-L1 subsequente, representando uma taxa de crossover efetiva de 66,0%. A sobrevida global mediana foi de 26,3 meses (95% CI, 18,3-40,4) para pembrolizumabe e 13,4 meses (9,4-18,3) para quimioterapia (HR, 0,62; 95% CI, 0,48-0,81)”, relatam.
A taxa de SG em 5 anos foi de 31,9% para o grupo tratado com pembrolizumabe, praticamente o dobro comparada ao grupo de quimioterapia (16,3%). Trinta e nove pacientes receberam 35 ciclos (ou seja, aproximadamente 2 anos) de pembrolizumabe, dos quais 82,1% ainda estavam vivos no acompanhamento de 5 anos.
Em relação à segurança e qualidade de vida, Reck e colegas reportam que não foram identificados novos sinais de segurança e não houve aumento da toxicidade com a exposição mais longa ao tratamento.
Em conclusão, os dados de 5 anos de acompanhamento mostram que pembrolizumabe somou benefício de SG de longo prazo e que o benefício foi durável e clinicamente significativo em relação à quimioterapia como terapia de primeira linha para CPNPC metastático em pacientes com proporção de PD-L1 tumoral de pelo menos 50%.
“Historicamente, pacientes com CPNPC avançado tinham prognóstico ruim, apesar do uso de quimioterapia à base de platina. Para pacientes com metástases à distância, a taxa de sobrevida relativa em 5 anos é globalmente baixa, sendo de apenas 6,9% nos Estados Unidos entre 2010 e 2016”, compara a publicação, dimensionando como a imunoterapia alterou a abordagem de tratamento para pacientes com CPNPC sem mutações oncogênicas.
Reck et al. lembram também dos resultados do estudo KEYNOTE-042, que mostrou benefício do anti PD-1 pembrolizumabe sobre a quimioterapia em pacientes com CPNPC avançado e TPS> 1% e destacam também estudos em que pembrolizumabe combinado à quimioterapia mostrou SG superior em relação à quimioterapia isolada em pacientes com CPNPC metastático (KEYNOTE-189) e escamoso (KEYNOTE-407) sem alterações de EGFR ou ALK, independentemente da expressão de PD-L1 tumoral.
Teixeira observa que outro estudo recém apresentado na ESMO virtual plenary pela oncologista Solange Peters destaca dados de vida real de pacientes tratados com imunoterapia isolada versus combinação com quimioterapia neste cenário de hiperexpressão de PD-L1 (> 50%), mostrando que a monoterapia alcança índices de sobrevida global comparáveis à combinação (22,05 x 20,96 meses).
“Hoje é possível dizer que a monoterapia é conduta sólida e com dados de eficácia robustos a longo prazo, permitindo aos oncologistas uma estratégia segura para o tratamento de primeira linha em uma fatia considerável de pacientes com CPNPC. Com todas as críticas existentes, ainda assim o PD-L1 pode ser encarado como um biomarcador importante neste cenário”, afirma.
O oncologista ressalta o caráter contínuo do PD-L1, capaz de induzir respostas distintas em pacientes com PD-L1 entre 50-90% e > 90%. “Critérios clínicos e epidemiológicos precisam ser levados em consideração (burden de doença, PS, idade e tabagismo) conjuntamente com o PD-L1 para melhor escolha terapêutica entre monoterapia e combinação”, avalia.
“Estudos em andamento que testam essas estratégias nos ajudarão sedimentar essa importante questão no tratamento do CPNPC avançado”, conclui.
O estudo KEYNOTE-024 está registrado na plataforma ClinicalTrials.gov: NCT02142738
A íntegra do artigo está disponível, em acesso aberto.
Referência: Five-Year Outcomes With Pembrolizumab Versus Chemotherapy for Metastatic Non–Small-Cell Lung Cancer With PD-L1 Tumor Proportion Score ≥ 50% - DOI: 10.1200/JCO.21.00174 Journal of Clinical Oncology - Published online April 19, 2021.