Artigo publicado no Jama Oncology descreve os resultados de estudo do Canadian Cancer Trials Group (CO.26 Study) que avaliou o efeito da combinação de dois inibidores de checkpoint imune versus o melhor tratamento de suporte em pacientes com câncer colorretal avançado. “O estudo mostrou a possibilidade de ampliação de utilização de imunoterapia no câncer colorretal metastático”, avalia o oncologista Roberto Gil (foto), médico do Grupo Oncoclínicas.
Neste estudo de Fase II, Eric Chen e colegas avaliaram pacientes com adenocarcinoma de cólon ou reto histologicamente confirmado; previamente expostos a todas as terapias sistêmicas disponíveis (fluoropirimidinas, oxaliplatina, irinotecano e bevacizumabe, se indicado; cetuximabe ou panitumumabe se tumores do tipo RAS selvagem; regorafenibe, se disponível).
Foram elegíveis 180 pacientes com câncer colorretal metastático e refratário, randomizados (2: 1) para tremelimumabe e durvalumabe isoladamente ou em combinação com melhores cuidados de suporte. Dos 180 inscritos (67,2% homens, idade média de 65 anos), 179 foram tratados.
“Vale ressaltar que foram realizadas avaliações moleculares em biopsia líquida em 169 dos 180 pacientes para pesquisa de estabilidade de microssatélites e carga de mutação tumoral. É uma possibilidade de seleção de pacientes muito interessante e que nesse estudo foi extremamente relevante”, observa Gil.
Resultados
Com acompanhamento médio de 15,2 meses, a SG mediana foi de 6,6 meses para durvalumabe e tremelimumabe e 4,1 meses para melhores cuidados de suporte (HR= 0,72; IC 90%, 0,54-0,97; P = 0,07). A sobrevida livre de progressão foi de 1,8 meses e 1,9 meses, respectivamente (HR, 1,01; IC 90%, 0,76-1,34).
Pacientes com estabilidade de microssatélites com elevada carga mutacional tumoral no plasma (TMB), de 28 ou mais variantes por megabase (21% dos pacientes com MSS) tiveram o maior benefício de SG (HR, 0,34; IC 90%, 0,18-0,63; P = 0,004). “Além dos pacientes com elevado TMB, o benefício se manteve em pacientes com estabilidade de microssatélites. Acredito que a exposição prévia à quimioterapia aumenta essa sensibilidade”, avalia.
Os eventos adversos de grau 3 ou 4 foram significativamente mais frequentes com a imunoterapia, braço em que 64% dos pacientes tiveram pelo menos 1 evento adverso de grau 3 ou superior versus 20% no grupo de cuidados de suporte (HR, 0,66; IC 90%, 0,49-0,89; P = 0,02).
“Este estudo de Fase II sugere que a combinação de inibidores de checkpoint imune com durvalumabe mais tremelimumabe pode prolongar a SG em pacientes com câncer colorretal refratário avançado”, concluem os autores.
Gil destaca o fato da carga de mutação tumoral ser utilizada como um marcador biológico importante para a seleção de pacientes. “Houve uma correlação de dados obtidos no DNA circulante, demonstrando a possibilidade da biopsia líquida ser utilizada na definição de linhas de tratamento no câncer colorretal metastático, que é um dado significativo do trabalho”, diz. Novos estudos são necessários para confirmar esses achados.
“O estudo mostrou a possibilidade de ampliação de utilização de imunoterapia no câncer colorretal metastático. Hoje, nós restringimos sua utilização a pacientes com instabilidade de microssatélites, presente em apenas 5% dos pacientes com doença metastática. Outros estudos associaram nivolumabe e regorafenibe, ou atezolizumabe, bevacizumabe e capecitabina, tentando reverter a imunorresistência dos pacientes com CCRm e estabilidade de microssatélites. Esse trabalho se associa à essa busca da ampliação dessa indicação para esses pacientes”, ressalta Gil.
Para o oncologista, uma questão importante é o custo do tratamento. “A COVID evidenciou a necessidade de priorizar investimentos, e sabemos que grandes investimentos em pacientes com câncer metastático podem resultar em diminuição de recursos destinados às fases mais iniciais da doença. Sem dúvida, a imunoterapia é importante para pacientes selecionados, o que reforça o interesse na estratégia para seleção de pacientes realizada pelos autores do estudo”, conclui.
O estudo contou com a participação de 27 centros de câncer no Canadá e está inscrito na plataforma ClinicalTrials.gov: NCT02870920.
O câncer colorretal é a segunda principal causa de morte por câncer em todo o mundo, representando aproximadamente 880 mil mortes em 2018 (GLOBOCAN, 2018).
Referência: Chen, E. X., Jonker, D. J., Loree, J. M., Kennecke, H. F., Berry, S. R., Couture, F., … O’Callaghan, C. J. (2020). Effect of Combined Immune Checkpoint Inhibition vs Best Supportive Care Alone in Patients With Advanced Colorectal Cancer. JAMA Oncology. doi:10.1001/jamaoncol.2020.0910