Onconews - Incidência de câncer peritoneal após ooforectomia entre portadores de mutação BRCA1 e BRCA2

Estudo publicado no JNCI: Journal of the National Cancer Institute buscou estimar a incidência de câncer peritoneal primário após ooforectomia bilateral preventiva em mulheres com mutação BRCA1 ou BRCA2. Jesus Paula Carvalho (foto), coordenador da equipe de ginecologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), comenta os resultados.

No estudo, um total de 6.310 mulheres com mutação BRCA1 ou BRCA2 que foram submetidas a ooforectomia bilateral preventiva foram acompanhadas por uma média de 7,8 anos após a ooforectomia. A incidência cumulativa de câncer peritoneal pós-ooforectomia em 20 anos foi estimada pelo método de Kaplan-Meier.

Uma análise de risco proporcional de Cox foi utilizada para estimar as razões de risco (HR) e os intervalos de confiança (IC) de 95% associados à idade da paciente no momento da realização da ooforectomia, há quanto tempo foi realizado o procedimento e ao histórico familiar de câncer de ovário, bem como aos fatores de risco hormonais e reprodutivos.

Resultados 

Cinquenta e cinco mulheres desenvolveram câncer peritoneal primário (n = 45 no BRCA1, 8 no BRCA2 e 2 em mulheres com mutação em ambos os genes). A idade média na ooforectomia foi de 48,9 anos. O risco anual de câncer peritoneal foi de 0,14% para mulheres com mutação BRCA1 e de 0,06% para mulheres com mutação BRCA2.

O risco cumulativo de câncer peritoneal em 20 anos a partir da data da ooforectomia foi de 2,7% para portadores de BRCA1 e de 0,9% para portadores de mutação BRCA2. Não houve câncer peritoneal em portadores de BRCA1 que foram operados antes dos 35 anos ou em portadores de BRCA2 que foram operados antes dos 45 anos.

“Para portadores da mutação BRCA1, o risco anual de câncer peritoneal durante 20 anos após a ooforectomia é de 0,14% ao ano. O risco é menor para portadores de BRCA2 (0,06% ao ano)”, destacaram os autores.

Carvalho observa que a recomendação para portadoras de mutação BRCA1/2 é a salpingo-ooforectmia bilateral de redução de risco aos 30 e 40 anos, respectivamente. No entanto, por motivos diversos, a recusa à cirurgia pode chegar em torno de 50% dos casos em alguns estudos2. “No presente estudo, fica evidente que a cirurgia redutora de risco realizada no tempo adequado é o fator mais importante na redução do câncer de peritônio”, ressalta.

“Outro achado importante é a incidência de 27.5% de câncer peritoneal em portadoras de STIC (serous tubal intraepithelial carcinoma), o que sugere que estas pacientes podem ser candidatas a terapias adjuvantes pós cirurgia redutora de risco”, conclui Carvalho.

Referência:

1 - Steven A Narod, Jacek Gronwald, Beth Karlan, Pal Moller, Tomasz Huzarski, Nadine Tung, Amber Aeilts, Andrea Eisen, Susan Randall Armel, Christian F Singer, William D Foulkes, Susan L Neuhausen, Olufunmilayo Olopade, Tuya Pal, Robert Fruscio, Kelly Metcalfe, Rebecca Raj, Michelle Jacobson, Ping Sun, Jan Lubinski, Joanne Kotsopoulos, Incidence of Peritoneal Cancer Following Oophorectomy among BRCA1 and BRCA2 Mutation Carriers, JNCI: Journal of the National Cancer Institute, 2024;, djae151, https://doi.org/10.1093/jnci/djae151

2 - [1] Kim D, Kang E, Hwang E, Sun Y, Hwang Y, Yom CK, et al. Factors affecting the decision to undergo risk-reducing salpingo-oophorectomy among women with BRCA gene mutation. Fam Cancer. 2013;12:621-8.