A inflamação crônica pode desempenhar papel relevante no desenvolvimento de problemas cognitivos em sobreviventes de câncer de mama. É o que demonstra estudo longitudinal que avaliou a relação entre os níveis de proteína C reativa (PCR) e cognição nessa população de pacientes, sugerindo que o teste de PCR pode ser clinicamente útil nos cuidados de sobrevida.
Nesta análise, o objetivo dos pesquisadores foi examinar as relações longitudinais entre PCR e a cognição em sobreviventes de câncer de mama com idade acima de 60 anos.
Foram elegíveis mulheres falantes de inglês, recém-diagnosticadas com câncer de mama primário (estágio 0-III), com idade ≥ 60 anos, assim como controles pareados, inscritos de setembro de 2010 a março de 2020. As avaliações foram realizadas em visitas anuais por até 60 meses, desde a inscrição. A cognição foi medida através de questionário validado (Avaliação Funcional da Terapia do Câncer-Função Cognitiva) e testes neuropsicológicos. Modelos de efeitos lineares mistos foram usados para apontar diferenças na PCR e transformá-las em log natural (ln) em cada visita. Modelos de flutuação testaram os efeitos da ln-PCR na cognição subsequente. Todos os modelos foram controlados por idade, raça, local do estudo, reserva cognitiva, obesidade e comorbidades. Análises secundárias avaliaram se a depressão ou a ansiedade afetaram os resultados.
Os dados publicados no JCO por Carroll et al. consideram 400 sobreviventes e 329 controles com amostras de PCR e dados de acompanhamento disponíveis (idade média de 67,7 anos, intervalo: 60-90 anos). A maioria dos sobreviventes tinha tumores em estágio I (60,9%), receptor de estrogênio positivo (87,6%). A análise mostra que os sobreviventes tiveram média ajustada de ln-CRP significativamente maior do que os controles, tanto no início do estudo, quanto nas visitas de 12, 24 e 60 meses (todos P < 0,05). O ln-PCR ajustado mais alto foi capaz de predizer menor cognição relatada pelos participantes em visitas subsequentes, o que não foi observado entre os controles (interação P = 0,008). Os efeitos não foram alterados pela depressão ou ansiedade. No geral, os resultados mostram que os sobreviventes tiveram escores menores na Avaliação Funcional da Terapia do Câncer-Função Cognitiva, que foram 9,5 e 14,2 pontos mais baixos do que os controles, com níveis de PCR de 3,0 e 10,0 mg/L. Os sobreviventes apresentaram pior desempenho no teste neuropsicológico, com interações significativas com PCR apenas para o teste Trails B.
“Relações longitudinais entre PCR e cognição em sobreviventes de câncer de mama acima de 60 anos sugerem que a inflamação crônica pode desempenhar papel relevante no desenvolvimento de problemas cognitivos. O teste de PCR pode ser clinicamente útil nos cuidados de sobrevida”, concluem os autores.
Referência: Elevated C-Reactive Protein and Subsequent Patient-Reported Cognitive Problems in Older Breast Cancer Survivors: The Thinking and Living With Cancer Study. Judith E. Carrol et al - DOI: 10.1200/JCO.22.00406 Journal of Clinical Oncology. Published online September 30, 2022