Estudo brasileiro multicêntrico publicado no Journal for Immunotherapy of Cancer demonstrou que os linfócitos T reguladores produzidos após uma infecção grave podem inibir o câncer colorretal induzido por inflamação intestinal (colite). O trabalho foi tema de doutorado do médico Caio Abner Leite (foto), doutor em Oncologia pelo A.C. Camargo Cancer Center.
Dados anteriores relataram que o crescimento de tumores estabelecidos pode ser facilitado pelo distúrbio pós-sepse por meio de alterações no microambiente e disfunção imunológica. No entanto, a influência do distúrbio pós-sepse na carcinogênese inicial permanece incompreendida.
Nesse estudo, o efeito do distúrbio pós-sepse na carcinogênese precoce induzida por inflamação foi avaliado em um modelo experimental de câncer colorretal associado à colite (CAC). Os pesquisadores também analisaram a frequência e o papel das células T reguladoras intestinais (Treg) na carcinogênese do CAC.
Resultados
O grau de colite e a taxa de desenvolvimento do tumor foram avaliados post-mortem ou in vivo através de colonoscopias seriadas específicas para roedores. Modelos murinos mostraram que animais sobreviventes à sepse (SSM) apresentaram menor dano ao DNA das células do cólon, incidência de pólipos, carga tumoral e colite do que nos homólogos falso-operados (sham).
A ablação das células T reguladoras intestinais através do uso de animais geneticamente modificados ou do uso do quimioterápico ciclofosfamida levou à restauração da capacidade de desenvolver colite e pólipos tumorais nos animais sobreviventes à sepse, de maneira semelhante à observada nos homólogos sham. Por outro lado, o crescimento de células cancerígenas colorretais MC38luc inoculadas no subcutâneo ou tumores CAC previamente estabelecidos foram aumentados nos animais sobreviventes à sepse.
“Nossos resultados fornecem evidências de que o transtorno pós-sepse tem um efeito duplo no desenvolvimento do câncer, inibindo a carcinogênese precoce induzida por inflamação de maneira dependente das células T reguladoras intestinais, enquanto aumenta o crescimento de tumores previamente estabelecidos”, concluiu Leite.
Referência: Leite CA, Mota JM, de Lima KA, et al. Paradoxical interaction between câncer and long-term postsepsis disorder: impairment of de novo carcinogenesis versus favoring the growth of established tumors. Journal for ImmunoTherapy of Cancer 2020;8:e000129. doi:10.1136/jitc-2019-000129