Onconews - LACC: qualidade de vida em pacientes com câncer de colo de útero após histerectomia

reitan 2020 bxO estudo randomizado de Fase III LACC demonstrou melhor sobrevida livre de doença e sobrevida global com a cirurgia aberta em comparação com a histerectomia laparoscópica em mulheres com câncer de colo do útero estágio inicial. Agora, os resultados do desfecho secundário de qualidade de vida foram publicados no Lancet, em artigo com a participação do cirurgião oncológico Reitan Ribeiro (foto), médico do Hospital Erasto Gaertner e do Instituto de Oncologia do Paraná (IOP).

O LACC foi um estudo randomizado, aberto, de Fase III, de não inferioridade, realizado em 33 centros em todo o mundo. As participantes elegíveis eram mulheres com 18 anos ou mais, com câncer de colo uterino IA1 (invasão linfovascular), IA2 ou IB1 e subtipo histológico de carcinoma de células escamosas, adenocarcinoma ou carcinoma adenoescamoso, status ECOG 0 ou 1, randomizadas (1: 1) para receber histerectomia radical aberta ou minimamente invasiva. O endpoint primário foi a sobrevida livre de doença aos 4 e 5 anos; os resultados de qualidade de vida reportados no Lancet foram um desfecho secundário.

As pacientes elegíveis concluíram as avaliações de qualidade de vida e de sintomas (12-item Short Form Health Survey [SF-12], Avaliação funcional da terapia do câncer do colo do útero [FACT-Cx], EuroQoL-5D [EQ-5D] e Inventário de Sintomas do MD Anderson [MDASI]) antes da cirurgia, 1 e 6 semanas e 3 e 6 meses após a cirurgia (o FACT-Cx também foi concluído em momentos adicionais até 54 meses após a cirurgia).

As diferenças na qualidade de vida ao longo do tempo entre os grupos de tratamento foram avaliadas na população intention-to-treat modificada, que incluiu todas as pacientes que fizeram cirurgia e completaram pelo menos um questionário no baseline e no follow up (em qualquer momento após a cirurgia).

Resultados

Entre 31 de janeiro de 2008 e 22 de junho de 2017, 631 pacientes foram inscritas; 312 designadas para o braço de cirurgia aberta e 319 para o braço de cirurgia minimamente invasiva. Entre as 631 pacientes, 496 (79%) foram submetidas a cirurgia e completaram pelo menos um questionário de qualidade de vida no baseline e no follow up, e foram incluídas na análise intention-to-treat modificada (244 [78%] de 312 pacientes na cirurgia aberta e 252 [79%] de 319 participantes no grupo de cirurgia minimamente invasiva). O acompanhamento médio foi de 3 anos e meio (IQR 1·7 - 4·5).

No baseline, não foram identificadas diferenças na pontuação total média do FACT-Cx entre os grupos cirurgia aberta (129,3 [DP 18,8)] e cirurgia minimamente invasiva (129,8 [19,8)]. Também não foram identificadas diferenças nas pontuações totais médias do FACT-Cx entre os grupos 6 semanas após a cirurgia (128,7 [DP 19,9] no grupo de cirurgia aberta versus 130,0 [19,8] no grupo de cirurgia minimamente invasiva) ou 3 meses após a cirurgia (132,0 [21,7] vs 133,0 (22,1)).

Como as taxas de recorrência são mais altas e a sobrevida livre de doença é menor na histerectomia radical minimamente invasiva em comparação com a cirurgia aberta, e a qualidade de vida pós-operatória se mostrou semelhante entre os grupos de tratamento, os autores concluíram que a histerectomia radical aberta deve ser recomendada para pacientes com câncer cervical em estágio inicial.

Para Reitan, de todos os resultados do LACC, os de qualidade de vida talvez tenham sido os mais surpreendentes, devido à convicção existente de que a qualidade de vida das pacientes submetidas a cirurgia laparoscópica seria muito melhor que a da cirurgia aberta. “O fato é que outros estudos comparando a qualidade de vida de pacientes submetidas a cirurgia minimamente invasiva também falharam em mostrar superioridade desta via sobre a cirurgia aberta em médio e longo prazo. Isso, em especial, em cirurgias de grande porte”, observa. “Costumo dizer que quando a cirurgia é maior que a incisão, pequeno é o benefício da minimamente invasiva. Espero que isso sirva de estímulo adicional para evoluirmos mais nas técnicas minimamente invasivas”, diz.

“Talvez uma explicação para os resultados semelhantes tenha sido a evolução da cirurgia aberta, que se aproveitou dos conhecimentos adquiridos com a minimamente invasiva na década de 1990 e início dos anos 2000. Esses conhecimentos, especialmente em termos de anatomia e de aceleração da recuperação pós-operatória, foram aplicados também na cirurgia aberta e isso aproximou os resultados das duas vias”, avalia.

O estudo LACC foi financiado pelo MD Anderson Cancer Center e Medtronic, e está registrado em ClinicalTrials.gov, NCT00614211.

Referência: Quality of life in patients with cervical cancer after open versus minimally invasive radical hysterectomy (LACC): a secondary outcome of a multicentre, randomised, open-label, phase 3, non-inferiority trial – Michael Frumovitz et al - Published: June, 2020 - DOI:https://doi.org/10.1016/S1470-2045(20)30081-4