É possível descontinuar o tratamento com inibidor de tirosina-quinase (TKI) em pacientes com leucemia mieloide crônica (LMC)? Existem características moleculares associadas à descontinuação bem sucedida? É o que se propõe a responder o estudo LAST (Life After Stop TKIs), agora com dados reportados 13 de novembro no JAMA Oncology. O hematologista Nelson Hamerschlak (foto), coordenador do Programa de Hematologia e Transplantes de Medula Óssea do Hospital Israelita Albert Einstein, comenta os resultados.
Este ensaio clínico prospectivo não randomizado envolveu 172 pacientes de 14 centros médicos acadêmicos norte-americanos, inscritos de 18 de dezembro de 2014 a 12 de dezembro de 2016. Foram elegíveis adultos com LMC bem controlada com imatinibe, dasatinibe, nilotinibe ou bosutinibe. A análise estatística foi realizada de 13 de agosto de 2019 a 23 de março de 2020.
Dos 172 pacientes inscritos, 89 eram mulheres (51,7%), e a idade mediana foi de 60 anos (variação, 21-86 anos). De 171 pacientes avaliáveis para análise molecular, 112 (65,5%) permaneceram com resposta molecular e 104 (60,8%) alcançaram remissão sem tratamento (TFR).
Apenas mutações no rearranjo gênico BCR-ABL1 foram associadas à recorrência molecular no momento da descontinuação do inibidor de tirosina-quinase na análise de reação em cadeia da polimerase quantitativa em tempo real (RQ-PCR) ou na análise por reação em cadeia da polimerase digital em gotas (ddPCR).
“Mais de 50% dos pacientes permaneceram em resposta completa após a retirada do medicamento, e houve uma melhora significativa de efeitos adversos como cansaço, náuseas e diarreia”, afirma Hamerschlak.
O especialista afirma que, na prática, tem usado um processo de decisão compartilhada com os pacientes para retirada do TKI com vigilância do BCR-ABL mensal. “Particularmente, julgo que são candidatos mulheres que desejam engravidar e pacientes que preenchem critérios de inclusão com efeitos adversos importantes”, avalia.
Para os autores, este ensaio clínico não randomizado sugere que a descontinuação do inibidor de tirosina-quinase é segura e viável e está associada a melhorias nos resultados relatados pelo paciente. “Esses achados devem ajudar médicos e pacientes na tomada de decisão sobre a descontinuação dos TKIs”, concluem.
O estudo LAST está registrado na plataforma ClinicalTrials.gov: NCT02269267.
Referência: Atallah E, Schiffer CA, Radich JP, et al. Assessment of Outcomes After Stopping Tyrosine Kinase Inhibitors Among Patients With Chronic Myeloid Leukemia: A Nonrandomized Clinical Trial. JAMA Oncol. Published online November 12, 2020. doi:10.1001/jamaoncol.2020.5774