Estudo de Fase II do CALGB (Alliance) que explorou o uso de letrozol pré-operatório durante 6 meses em pacientes com carcinoma ductal in situ (CDIS) mostrou que a estratégia pode ser interessante para alguns pacientes. “Ainda hoje continuamos em dúvidas se todos os carcinomas in situ devem ser operados e que critérios seguir para a conduta conservadora. Este é o primeiro estudo a avaliar a hormonioterapia neoadjuvante neste grupo de pacientes”, observa o mastologista André Mattar (foto), responsável pelo Núcleo de Oncologia Clínica do Hospital Pérola Byington, em São Paulo. Os resultados foram publicados no Journal of Clinical Oncology.
Este estudo multicêntrico de Fase II, de braço único, incluiu pacientes na pós-menopausa diagnosticados com CDIS e receptores positivo para receber letrozol 2,5 mg por dia, durante 6 meses antes da cirurgia. A ressonância magnética da mama (RM) era obrigatória e foi realizada antes no início do estudo (baseline), aos 3 meses e 6 meses. O endpoint primário foi estimar a mudança de volume de doença após 6 meses de tratamento. Os endpoints secundários envolveram análises do volume de doença pela ressonância de 3 meses comparado com 6 meses de tratamento, mudança nos receptores de estrogênio (RE), progesterona (RP) e Ki67, bem como avaliar a correlação entre os achados da ressonância magnética e a histopatologia.
Resultados
O estudo incluiu 108 pacientes elegíveis dos quais 79 receberam o tratamento e 70 completaram 6 meses de letrozol. Desses, 67 pacientes tinham dados de RM disponíveis para análise. Os volumes basais de RM variaram de 0,004 a 26,3 cm3. As reduções medianas do volume inicial da ressonância magnética (1,4 cm3) foram de 0,6 cm3 (61,0%) em 3 meses (P <0,001) e 0,8 cm3 (71,7%) em 6 meses (P <0,001). Reduções nos três marcadores (RE, RP e KI67) foram observadas. O escore de mediano de RE diminuiu em 15 (p=0,005), o de progesterona diminuiu em 85 (p< 0,001) e o de KI67 diminuiu em 6,3% (P =0,007).
“Dos 59 pacientes submetidos à cirurgia no protocolo deste estudo, o CDIS ainda estava presente em 50 pacientes (85%), o câncer invasivo foi detectado em seis pacientes (10%) e nenhum CDIS residual ou câncer invasivo foi observado em nove pacientes (15%)”, descreve o artigo do CALGB (Alliance).
Para os autores, os achados indicam que nessa coorte de mulheres o letrozol pré-operatório resultou em alterações significativas de imagem e nos biomarcadores analisados. Esses achados apoiam estudos futuros de terapia endócrina como tratamento primário de alguns CDIS.
“Os resultados evidenciam que a hormonioterapia funciona: a resposta patológica completa é bastante interessante (15% dos pacientes), com pouca chance de progressão da doença ou suspeita de carcinoma invasivo. Esta abordagem pode ser uma opção neste grupo de pacientes. Sem dúvida, novos estudos serão realizados para entendermos qual a melhor conduta neste grupo de pacientes”, conclui Mattar.
Referência: Hwang, E. S., Hyslop, T., Hendrix, L. H., Duong, S., Bedrosian, I., Price, E., … Hylton, N. (2020). Phase II Single-Arm Study of Preoperative Letrozole for Estrogen Receptor–Positive Postmenopausal Ductal Carcinoma In Situ: CALGB 40903 (Alliance). Journal of Clinical Oncology, JCO.19.00510. doi:10.1200/jco.19.00510