Estudo publicado no periódico Supportive Care in Cancer descreve a prevalência e as manifestações orais da doença do enxerto versus hospedeiro em pacientes submetidos ao transplante alogênico de células-tronco hematopoéticas no A.C.Camargo Cancer Center. Ana Cláudia Scaraficci (na foto, à direita) é a primeira autora do trabalho, que tem a estomatologista Graziella Chagas Jaguar (foto) como autora correspondente.
A doença do enxerto contra o hospedeiro (GVHD) é uma complicação importante do transplante alogênico de células-tronco hematopoéticas (AHCT) que afeta vários órgãos, incluindo a boca. Nesse estudo, os pesquisadores avaliaram a prevalência e manifestações clínicas da doença nessa população de pacientes, bem como o intervalo de tempo desde o AHCT até o início das manifestações de GVHD oral, os fatores preditivos e as taxas de sobrevida de pacientes diagnosticados com a doença.
Os prontuários médicos de 147 pacientes submetidos a AHCT entre janeiro de 2010 e janeiro de 2015 foram revisados para as características clínicas e o estabelecimento estatístico dos fatores de risco.
Resultados
Entre os 147 pacientes no estudo, 99 (67,3%) desenvolveram GVHD. A pele foi o local mais acometido (45,6%), seguida do trato gastrointestinal (27,9%) e cavidade oral (17,7%). O tempo médio de desenvolvimento de GVHD oral pós-AHCT foi de 229 dias. Entre os pacientes com GVHD oral, a dor foi a queixa principal (96,2%), seguida de xerostomia (65,4%).
As manifestações orais mais comuns foram úlceras (53,8%), seguidas de úlceras associadas a estrias (19,2%), principalmente na mucosa bucal e língua. Setenta e três pacientes (48,6%) morreram no período de 20 meses de receber o transplante. A análise de regressão de Cox indicou que os pacientes que receberam regime de condicionamento mieloablativo tiveram maior taxa de sobrevida em comparação com aqueles que se submeteram a um regime de condicionamento de intensidade reduzida (RR = 0,541; 95% CI, 0,334–0,878; p = 0,03).
“A boca foi o terceiro local afetado pela GVHD, e as principais manifestações clínicas observadas na coorte do estudo foram dor, xerostomia e úlceras com ou sem estrias. O regime de condicionamento de intensidade reduzida mostrou relação significativa com o risco de mortalidade. Enfatizamos também a importância dos clínicos de medicina oral no controle dos efeitos colaterais orais, tanto durante os sintomas de GVHD quanto a longo prazo, prevenindo possíveis infecções e tumores malignos na boca”, concluíram os autores.
Referência:
Scaraficci, A.C., Fernandes, P.M., Abreu Alves, F. et al. Oral manifestations of graft-versus-host disease in patients submitted to allogeneic hematopoietic stem cell transplantation: the experience of a Brazilian Cancer Center . Support Care Cancer (2021). https://doi.org/10.1007/s00520-021-06349-9