As informações genéticas podem ajudar a identificar pacientes com probabilidade de responder à radioterapia e predizer quando pode ocorrer a recorrência da doença após a radiação. As descobertas são de dois estudos apresentados no ASCO Breakthrough: A Summit Global for Oncology Innovators, que aconteceu entre os dias 11 e 13 de outubro em Bangkok. Os resultados podem ajudar os médicos a adaptar estratégias individuais de tratamento, aumentar a eficácia e minimizar os eventos adversos.
No primeiro desses estudos, os pesquisadores identificaram mutações no gene ATM que parecem estar associadas a uma melhor resposta ao tratamento com radioterapia. Mutações somáticas de genes envolvidos no reparo do DNA (por exemplo, ATM e BRCA1/2) podem resultar em resistência à quimioterapia e mau prognóstico, mas podem conferir sensibilidade à radioterapia. Neste estudo, os pesquisadores investigaram a hipótese de que pacientes com essas mutações podem ser mais suscetíveis à radioterapia.
Os autores examinaram os resultados do screening de todo o genoma dos pacientes em um registro de radioterapia coletado prospectivamente entre 2013 e 2019. De uma coorte de 134 pacientes, foram identificados 33 pacientes com mutações nos genes ATM (11 pacientes) e BRCA 1/2 (22 pacientes). A taxa de resposta foi avaliada em 66 pacientes com 90 lesões macroscópicas (mutação ATM, 11 pacientes e mutação BRCA 1/2, 22 pacientes). O tamanho médio do tumor e a dose de radioterapia foram de 24 mm (3-140) e 40 Gy (12-66), respectivamente.
Ao comparar a resposta à radioterapia com um grupo de pacientes próximos (com histologia semelhante e que receberam doses semelhantes de radiação) que não apresentavam as mutações, os pesquisadores descobriram que as mutações no gene ATM estavam associadas a uma melhor resposta completa (50% com mutação ATM vs. 8% sem mutação; P <0,05), resposta global (61% vs. 24%; P <0,05) e taxas de controle local em lesões alvo (94% vs. 58%; P <0,05).
A duração da resposta também foi maior na mutação ATM (mediana 11 vs. 3 meses, P = 0,001). No entanto, as toxicidades relacionadas à radioterapia não foram diferentes (17% vs. 11%, P = 0,515) e nenhuma toxicidade grave ocorreu.
Os autores concluíram que as mutações no ATM conferem respostas excepcionais à radioterapia, mesmo em doses paliativas, com possíveis implicações terapêuticas.
“A radiação funciona danificando as cadeias de DNA. Portanto, um gene de reparo de danos no DNA que está com defeito pode marcar um tumor como sensível ao tratamento com radiação. Nesse contexto, nosso estudo mostrou que o gene ATM (um gene de reparo de danos no DNA) pode servir como um novo marcador de radiosensibilidade que poderia ser aproveitado para tratamento personalizado no futuro”, disse Jason Joon Bock Lee, médico do Yonsei Cancer Center e primeiro autor do estudo.
Assinatura genética pode predizer tempo de recorrência após radiação em pacientes com câncer de mama
Em um segundo estudo, os pesquisadores identificaram um padrão genético que poderia ajudar a prever quais pacientes com câncer de mama terão recorrência precoce ou tardia da doença após a radioterapia. A capacidade de prever o momento da recorrência pode mudar - e melhorar - as estratégias de tratamento e determinar a duração do acompanhamento necessário.
Anteriormente, os pesquisadores haviam identificado uma assinatura genética ligada à resposta à radioterapia entre pacientes com câncer de mama. Eles expandiram esses resultados usando dados de duas coortes de pacientes que foram submetidas à radioterapia e cirurgia conservadora da mama. Um conjunto de pacientes (n = 119) foi estudado para desenvolver um modelo correlacionando o tempo de recorrência com a expressão gênica e outro grupo (n = 112) para validar o modelo. A assinatura resultante incluiu 41 genes. Com base na validação, a sensibilidade da assinatura para identificar com precisão a recorrência precoce versus tardia foi de 75% e a especificidade, de 100%.
“Historicamente, as mulheres que têm câncer de mama que recidivam nos primeiros três anos têm resultados significativamente piores, incluindo taxas muito mais altas de morte por câncer de mama. Se conseguirmos identificar essas pacientes antes que eles desenvolvam recorrências precoces e agressivas, poderemos trata-las com mais eficácia”, disse o principal autor do estudo, Corey Speers, professor assistente de radioterapia na Universidade de Michigan.
“Esse trabalho, embora inovador, é prematuro e ainda não está pronto para adoção clínica. Ainda são necessários estudos de validação em estudos clínicos prospectivos”, afirmou Speers.
Referências: Abstract 130: Genomic analysis reveals somatic mutations of ATM gene in DNA repair confer exceptional target lesion response to radiation therapy. - Jason Joon Bock Lee et al
Abstract 112: A signature predictive of early versus late recurrence after radiation (RT) for breast cancer that may inform the biology of early, aggressive recurrences - Corey Wayne Speers et al