A psico-oncologista Cristiane Bergerot (foto), do Centro de Câncer de Brasília (CETTRO), é primeira autora de estudo publicado no JCO Oncology Practice que avaliou a prevalência de medo de recidiva do câncer entre sobreviventes de carcinoma de células renais localizado.
O medo de recidiva do câncer (do inglês, FCR - fear of cancer recurrence) é considerado um sintoma relevante associado ao distress em pacientes sobreviventes. Embora possa ser considerada uma resposta adaptativa a ameaças reais associadas ao diagnóstico, tratamento e doença, vários estudos sugerem que níveis elevados podem ser disfuncionais. Apesar disso, pouco se sabe sobre a FCR entre indivíduos diagnosticados com carcinoma de células renais (CCR).
Nesse estudo, os participantes foram recrutados pela Kidney Cancer Research Alliance por meio de uma plataforma online. Os pacientes auto-referiram as características clínicas, distress (termômetro de distress) e medo da recorrência (Fear of Cancer Recurrence-7, FCR-7). O FCR-7 é composto por 7 itens, com pontuação variando de 0 a 28. Uma pontuação maior ou igual a 17 indica um nível moderado do sintoma de FCR, enquanto uma pontuação maior ou igual a 27 indica um sintoma severo. A regressão linear foi usada para determinar a associação entre o medo da recidiva e as características dos pacientes.
Resultados
Um total de 412 sobreviventes foram incluídos na análise. A maioria eram mulheres (79,4%), com alto nível de escolaridade (58,3%), mediana de idade de 54 anos (variação, 30-80 anos) e mediana de tempo desde o diagnóstico de 17,5 meses. Mais da metade dos participantes foi diagnosticada com doença no estágio I (56,1%). A maioria dos participantes (62,3%) tinha uma compreensão clara acerca do seu diagnóstico/prognóstico.
Uma alta prevalência de sintoma moderado a severo de distress (67%) e de FCR (54,9%) foi reportada por esses sobreviventes de câncer renal. As taxas mais elevadas de FCR foram associadas ao sexo feminino, idade mais jovem e falta de compreensão do diagnóstico/prognóstico (P = 0,001), enquanto a proximidade com a data do diagnóstico foi associada a níveis mais elevados de distress (P = 0,01).
“Nossos resultados sugerem que o medo de recidiva do câncer é um problema comum que persiste após o tratamento (sua prevalência e gravidade não reduz com o tempo) e que certos indivíduos, incluindo mulheres e pacientes mais jovens, apresentam maior risco de um sintoma de FCR clinicamente relevante. Ressalto a importância do screening para identificação desse sintoma e de um planejamento terapêutico para auxiliar o paciente a lidar com essa forma de sofrimento altamente prevalente entre os pacientes diagnosticados com carcinoma de células renais”, conclui Cristiane.
Referência: Fear of Cancer Recurrence in Patients With Localized Renal Cell Carcinoma - Cristiane Decat Bergerot et al - DOI: 10.1200/OP.20.00105 JCO Oncology Practice - Published online September 18, 2020.