Onconews - Metastasectomia no carcinoma renal metastático tem impacto na sobrevida

 

carvalhal 2021Qual a magnitude do benefício da metastasectomia em comparação com o tratamento sistêmico isolado em pacientes com carcinoma de células renais metastático (mRCC)? Estudo observacional publicado na edição de agosto da Clinical Genitourinary Cancer apoia o conceito da metastasectomia e sua associação com benefício de sobrevida global em pacientes com mRCC. “A metastasectomia é sempre uma alternativa a considerar nos casos em que uma ressecção completa é viável”, destaca o urologista Gustavo Franco Carvalhal (foto), chefe do serviço de Urologia da PUCRS e cirurgião robótico do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, que comenta os principais resultados.

Nesta análise, os pesquisadores consideraram o escore de propensão de sobrevida global (SG) em 106 pacientes com CCRm com metástases metacrônicas, dos quais 36 (34%) foram tratados com metastasectomia, ou seja, cirurgia com a intenção de remover a maioria ou todas as lesões metastáticas, enquanto 70 (66%) foram tratados apenas com terapia sistêmica. 

Os resultados mostram que os procedimentos de metastasectomia mais frequentes foram ressecções pulmonares (n = 13) e craniotomias (n = 6). O tempo médio de progressão após a metastasectomia foi de 0,7 anos (percentil 25-75: 0,3-2,7). Após acompanhamento mediano de 6,2 anos e 63 mortes, as estimativas de SG em 5 anos foram de 41% e 22% no grupo de metastasectomia e terapia sistêmica, respectivamente (log-rank P = 0,00007; Hazard ratio (HR) = 0,38, 95% CI: 0,21-0,68). 

Os autores descrevem que os pacientes submetidos à metastasectomia tiveram maior prevalência de fatores prognósticos favoráveis, como menos metástases pulmonares bilaterais e maiores intervalos livres de doença entre a nefrectomia e o diagnóstico de metástase. Após ponderação do escore de propensão para essas diferenças, a associação favorável entre metastasectomia e SG tornou-se muito mais fraca (HR = 0,62, IC 95%: 0,39-1,00, P = 0,050). As estimativas de SG em 5 anos ponderadas pelo escore de propensão foram de 24% e 20% no grupo de metastasectomia e terapia sistêmica, respectivamente (log-rank P = 0,001). Em análises exploratórias, o benefício da metastasectomia foi restrito aos pacientes que obtiveram ressecção completa de todas as metástases conhecidas. 

Dentro das limitações de um estudo observacional, esses achados apoiam o conceito de metastasectomia e sua associação com benefício de SG em pacientes com CCRm. No entanto, as metastasectomias que não atingem a ressecção completa de todas as lesões conhecidas provavelmente não promovem benefício de SG, alerta o estudo. 

Terapias antineoplásicas sistêmicas, como inibidores de tirosina quinase e inibidores de checkpoint imune melhoraram significativamente os resultados de pacientes com carcinoma de células renais metastático (mRCC). Embora esses tratamentos possam induzir respostas tumorais, retardar a progressão da doença, preservar a qualidade de vida e melhorar a sobrevida global (SG), os autores observam que poucos pacientes alcançam remissões a longo prazo e o CCRm ainda continua sendo uma doença geralmente fatal. 

“A principal chance de cura do paciente com câncer renal metastático metacrônico segue sendo a ressecção cirúrgica completa (R0) das metástases que surgem após o tratamento do tumor primário. Os novos tratamentos sistêmicos (drogas-alvo e inibidores dos checkpoints imunes), usados isoladamente ou em combinação, podem prolongar a sobrevida destes pacientes por algum tempo, porém as chances de cura parecem ser excepcionalmente raras ou nulas. Neste contexto, a metastasectomia é sempre uma alternativa a considerar nos casos em que uma ressecção completa é viável”, reforça Gustavo Carvalhal. 

O especialista explica que neste estudo observacional retrospectivo de um serviço austríaco com pacientes incluídos a partir de 2005, foram encontrados 106 casos de metástases metacrônicas, dos quais cerca de um terço (36 pacientes) foram submetidos à metastasectomia. Apesar da sobrevida ter sido maior no grupo das metastasectomias, controlando para os fatores prognósticos estas diferenças variaram consideravelmente. “Não houve benefício de sobrevida nos casos de ressecções incompletas (não R0). Os maiores beneficiados foram pacientes com metástases pulmonares únicas. Devemos lembrar que uma grande limitação do estudo foi não ter discriminado o uso de medicamentos após as metastasectomias, o que restringe bastante as conclusões. De qualquer modo, serve para reforçar o conceito de que as metastasectomias podem ser benéficas em situações especiais, mas que o prognóstico destes pacientes segue sendo reservado, com expectativas de cura baixas”, analisa Carvalhal. Estudos prospectivos randomizados forneceriam respostas mais exatas sobre o real benefício das metastasectomias sobre o uso exclusivo dos novos tratamentos sistêmicos nestes cenários de doença metacrônica”, conclui.

Referência: Maisel F, Smolle MA, Mollnar S, Riedl JM, Barth DA, Seles M, Terbuch A, Rossmann CH, Eisner F, Mannweiler S, Hutterer G, Zigeuner R, Pummer K, Smolle-Jüttner FM, Lindenmann J, Stotz M, Gerger A, Jost PJ, Bauernhofer T, Pichler M, Posch F. Benefit of Metastasectomy in Renal Cell Carcinoma: A Propensity Score Analysis. Clin Genitourin Cancer. 2022 Aug;20(4):344-353. doi: 10.1016/j.clgc.2022.03.010. Epub 2022 Mar 24. PMID: 35443915.