As técnicas contemplativas (mindfulness) têm impacto positivo no combate à ansiedade em pacientes com diagnóstico de câncer, com resultados que persistem por até 6 meses. É o que mostram os resultados da meta-análise recentemente publicada por Oberoi S et al. no JAMA Network Open, tema da análise de Schwenk TL et al. na NEJM Journal Watch.”É interessante poder medir os benefícios desse tipo de intervenção de forma mais objetiva para que sua indicação seja adotada de forma mais consistente durante o tratamento oncológico”, avalia a oncologista Ana Lucia Coradazzi (foto), responsável pela equipe de Oncologia Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Botucatu, São Paulo.
Nesta meta-análise foram incluídos 28 ensaios clínicos randomizados de 13 países (≈3000 pacientes adultos) para avaliar o impacto das intervenções baseadas em mindfulness em relação aos cuidados habituais ou nenhuma intervenção. Da população avaliada, 43% dos participantes tinha câncer de mama; o restante tinha outros tipos de câncer, em amostras obtidas de 9 estudos.
As intervenções baseadas em técnicas contemplativas (mindfulness) variaram em tipo e duração, desde o treinamento com uma única sessão de 1 hora a uma série de sessões (mediana de 8 semanas). As 2 intervenções mais comuns foram a chamada mindfulness-based stress reduction - MBSR (13 ensaios [46,4%]) e a mindfulness-based cognitive therapy - MBCT (6 ensaios [24,1%]).
Schwenk TL et al. destacam os principais achados da meta-análise, mostrando que intervenções de mindfulness melhoraram moderadamente a ansiedade de curto prazo (≤1 mês pós-intervenção), com base em escalas de ansiedade validadas. Aproximadamente o mesmo benefício foi encontrado no controle da ansiedade de médio prazo (1–6 meses), mas nenhum benefício foi demonstrado para ansiedade em > 6 meses após a intervenção. A melhora nos sintomas depressivos em curto e médio prazos foi equivalente ou ligeiramente superior ao benefício na ansiedade.
“As intervenções de mindfulness geralmente não são listadas nas recomendações para a gestão da ansiedade em pacientes com câncer, mas esses resultados mostraram benefícios de uma magnitude semelhante à maioria das intervenções comportamentais e de aconselhamento”, analisam Schvenk TL e colegas.
Ana Lúcia observa que esse tipo de intervenção é baseada em técnicas de atenção plena ao momento presente e identificação de pensamentos e emoções pessoais sem julgamento. “Não chega a ser surpreendente que tenham impacto positivo na redução da ansiedade e depressão em pacientes oncológicos, visto que são técnicas amplamente utilizadas para este fim em vários outros cenários”, afirma.
Outro aspecto ressaltado pela oncologista é a ausência de benefícios a longo prazo, o que é compreensível e até esperado, considerando-se que as técnicas de mindfulness baseiam-se na construção contínua de auto-conhecimento e consequente melhor controle do estresse. “Idealmente, devem ser praticadas de forma regular e contínua”, diz.
“A meta-análise corrobora as percepções que os oncologistas costumam ter na assistência aos pacientes: a de que tais técnicas permitem maior resiliência, menor ansiedade e melhor qualidade de vida durante e/ou após o tratamento oncológico”, conclui a especialista.
Referência: Oberoi S et al. Association of mindfulness-based interventions with anxiety severity in adults with cancer: A systematic review and meta-analysis. JAMA Netw Open 2020 Aug 7; 3:e2012598. (https://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2020.12598)
Schvenk et al. Mindfulness and anxiety reduction in cancer patients.