Um estudo da Universidade do Texas MD Anderson Cancer Center descobriu novos dados sobre a base hereditária da deficiência do mismatch repair (dMMR) no câncer retal. A descoberta pode orientar os médicos no diagnóstico, tratamento e medidas preventivas, além de explorar potenciais novas opções terapêuticas. Os resultados foram publicados na edição online de 18 de julho do Journal of Clinical Oncology (JCO). A oncologista Renata D’Alpino, do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes (COAEM), comenta para o Onconews.
Mismatch repair é o método do organismo para reparar mutações ou defeitos genéticos que ocorrem durante a divisão celular. Até 15% dos tumores colorretais apresentam a mutação genética. Até agora, pouco se sabe sobre como a mutação se comporta em pacientes com câncer retal, o que causa a dMMR, e quais tratamentos podem ser mais eficazes.
“Apesar de hoje rotineiramente testarmos instabilidade microssatélite nos tumores de cólon, esse tema sempre foi pouco abordado nos tumores de reto, pois sabemos que a chance de haver deficiência de mismatch repair é muito baixa nos tumores mais distais. Com esse estudo, pela primeira vez temos dados também de melhor prognóstico em pacientes com adenocarcinoma de reto e de boa resposta à tratamento neoadjuvante com quimiorradioterapia seguida de cirurgia”, afirma a oncologista Renata D’Alpino.
O trabalho forneceu uma referência para abordagens atuais de tratamento, incluindo quimioterapia e cirurgia e confirmou que pacientes dMMR tem maior probabilidade de ter um bom prognóstico. O estudo também destacou a necessidade de cuidados de longo prazo após o câncer retal.
O estudo
O estudo retrospectivo analisou registros de 62 pacientes com câncer retal dMMR submetidos à terapia multimodal entre 1992 e 2012. O objetivo foi delinear o impacto do dMMR sobre o prognóstico, a predição de resposta à terapia neoadjuvante baseada em fluoropirimidina, e as implicações das alterações germinativas nos genes MMR no câncer retal.
Após um acompanhamento médio de 6,8 anos, a sobrevida específica para o câncer retal em 5 anos foi de 100% para os estádios I e II, 85,1% para o estádio III, e 60% para a doença estádio IV. Quimiorradiação neoadjuvante baseada em fluoropirimidinas foi associada com uma taxa de resposta patológica completa de 27,6%.
“A taxa de resposta patológica completa nos 29 pacientes submetidos à quimiorradioterapia neoadjuvante seguida de cirurgia foi de 27,6%, um valor maior do que o esperado. Além disso, as taxas de sobrevida câncer-específicas em cinco anos para todos os estadios também foram bastante elevadas", explica Renata.
"Quatro genes - MLH1, MSH2, MSH6 e PMS2 – haviam anteriormente sido associados com o mismatch repair. Até agora, os pesquisadores acreditavam que MLH1 e MSH2 eram os principais responsáveis por causar a falha no reparo do DNA. O estudo demonstrou que a deficiência de MMR era mais comumente devido a alterações no MSH2 (53%) ou MSH6 (23%).
“A identificação de MSH2 e MSH6 como genes com mutações que os pacientes podem potencialmente transmitir aos membros da família é fundamental para oferecer uma melhor identificação e vigilância para os pacientes e familiares em risco de dMMR. Se sabemos que um paciente carrega esta mutação, podemos acompanhar ele e seus familiares em situação de risco, realizando testes de vigilância para detectar lesões pré-cancerígenas e removê-las o mais cedo possível ", afirmou Y. Nancy You, professora associada de Oncologia Cirúrgica e primeira autora do estudo.
A especialista acrescentou que a melhor compreensão das bases genéticas da dMMR em tumores retais e uma avaliação mais completa de como os pacientes respondem ao tratamento padrão permitirá que os médicos tomem decisões mais bem informadas quando se trata de oferecer novas terapias. "Há o potencial para a melhoria dos cuidados com novas abordagens de imunoterapia, mas as implicações prognósticas e preditivas de dMMR não foram especificamente estabelecidas no câncer de reto", disse You.
Referência: DNA Mismatch Repair Deficiency in Rectal Cancer: Benchmarking Its Impact on Prognosis, Neoadjuvant Response Prediction, and Clinical Cancer Genetics - Nicole de Rosa, Miguel A. Rodriguez-Bigas, George J. Chang, Jula Veerapong, Ester Borras, Sunil Krishnan, Brian Bednarski, Craig A. Messick, John M. Skibber, Barry W. Feig, Patrick M. Lynch, Eduardo Vilar e Y. Nancy You - Published online before print - July 18, 2016, doi:10.1200/JCO.2016.66.6826
http://jco.ascopubs.org/content/early/2016/07/14/JCO.2016.66.6826.abstract