A fadiga é frequente em sobreviventes de câncer de mama, mas são limitadas as ferramentas para prever seu risco e dimensionar o impacto na qualidade de vida. Agora, estudo publicado online no Journal of Clinical Oncology (JCO) apresenta um modelo validado que pode ajudar a fornecer intervenções precoces ou corrigir fatores de risco modificáveis para pacientes em risco de fadiga grave pós-tratamento.
Nesta análise, Di Meglio et al. consideraram dados de pacientes com câncer de mama no momento do diagnóstico e após 1 (T1), 2 (T2) e 4 (T3) anos. O principal endpoint foi fadiga global grave (escore ≥ 40/100) em T2, de acordo com questionário validado pela EORTC (EORTC-C30). As análises em T3 foram exploratórias. Endpoints secundários incluíram fadiga física, emocional e cognitiva (EORTC Quality of Life Questionnaire-FA12). Modelos de regressão logística multivariável buscaram associações com fadiga severa. Os métodos de validação incluíram validação cruzada de 10 vezes e validação externa, entre outros.
Resultados
Entre 5.640, 5.000 e 3.400 pacientes em T1, T2 e T3, respectivamente, a prevalência de fadiga global grave pós-tratamento foi de 35,6%, 34,0% e 31,5%. Os fatores de risco para fadiga global em T2 foram fadiga grave pré-tratamento (razão de risco ajustada v não 3,191 [IC 95%, 2,704 a 3,767]); idade mais jovem (para decréscimo de 1 ano 1,015 [1,009 a 1,022]), índice de massa corporal mais alto (incremento de 1,025 [1,012 a 1,038]), tabagismo atual (v nunca 1,552 [1,291 a 1,866]), piora na ansiedade (v não, 1,265 [1,073 a 1,492]), insônia (incremento de 1,005 [1,003 a 1,007]) e dor no momento do diagnóstico (incremento de 1,014 [1,010 a 1,017]), com área sob a curva de 0,73 ( 95% CI, 0,72 a 0,75). O tratamento com terapia hormonal foi um fator de risco para fadiga grave em T3 (v não, 1.448 [1.165 a 1.799]). Fatores de risco específicos incluíram índice de massa corporal para fadiga física e sofrimento emocional para fadiga emocional e cognitiva.
“Propusemos um modelo preditivo para avaliar a fadiga entre sobreviventes de câncer de mama, dentro de uma estrutura personalizada de cuidados de sobrevivência. Isso pode ajudar os médicos a fornecer intervenções de gerenciamento precoces ou corrigir fatores de risco modificáveis, com estratégias de monitoramento e educação mais personalizados para pacientes em risco de fadiga grave pós-tratamento”, concluem os autores.
Em síntese, pelo menos um em cada três pacientes sofreu fadiga grave e persistente após o tratamento do câncer de mama. A idade mais jovem, índice de massa corporal mais alto, comportamento de fumar e agrupamentos de sintomas concomitantes -incluindo fadiga pré-tratamento, ansiedade, insônia e dor - surgiram como principais fatores de risco para o desenvolvimento de fadiga severa 2 anos após o diagnóstico do câncer de mama. Modelos exploratórios identificaram a terapia hormonal como fator de risco adicional para fadiga severa 4 anos após o diagnóstico.
As informações são do estudo Breast Cancer Toxicity (CANTO/ NCT01993498).
Referência: Development and Validation of a Predictive Model of Severe Fatigue After Breast Cancer Diagnosis: Toward a Personalized Framework in Survivorship Care - DOI: 10.1200/JCO.21.01252 Journal of Clinical Oncology - Published online January 21, 2022