Estudo ecológico de séries temporais analisou as taxas de mortalidade por câncer de próstata na população brasileira de 1990 a 2019 em homens com 40 anos ou mais, usando dados do Global Burden of Disease 2019 (GBD). Os resultados foram reportados por Iser et al., na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, e mostram que a mortalidade corrigida pelo GBD ficou estável no Brasil, apesar de profundas disparidades entre os estados brasileiros.
Nesta análise, os pesquisadores calcularam as taxas de mortalidade padronizadas por idade, para o Brasil e seus estados, de 1990 a 2019, assim como as taxas padronizadas por idade pelo GBD para a população global, por 100.000 habitantes. A variação percentual média anual (AAPC, da sigla em inglês) foi calculada por meio de regressão linear para identificar as tendências de mortalidade no Brasil, utilizando o Programa de Regressão Joinpoint.
Resultados
As taxas padronizadas de mortalidade por câncer de próstata no Brasil foram de 76,89 em 1990 e de 74,96 óbitos para cada 100 mil homens ≥ 40 anos em 2019, com tendência de estabilidade. “Por faixa etária, observou-se tendência decrescente até os 79 anos e de aumento a partir dos 80 anos”, apontam os autores. O estado da Bahia apresentou o maior aumento da mortalidade no período (1,2%/ano), seguido por Maranhão e Pernambuco (1,0 e 0,9%/ano). No caminho inverso, o estudo mostrou redução na mortalidade por câncer de próstata no Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.
As diferenças sugerem que a maior mortalidade nas regiões menos desenvolvidas está relacionada ao acesso limitado ao diagnóstico e tratamento, bem como a menor qualidade dos serviços e informações de saúde. Essas desigualdades também foram apontadas em outros estudos nacionais, lembra a publicação, com contrastes marcantes entre as capitais e as regiões mais periféricas do país.
“Pode-se considerar que a melhora da expectativa de vida em alguns estados brasileiros, como a Bahia, pode não vir acompanhada de hábitos mais saudáveis, nem do acesso a serviços de saúde e educação preventiva”, analisam os autores. “A população, urbanizada e mais velha, adoece com mais frequência e, com diagnóstico mais tardio, acaba morrendo por causa da doença”, destacam. “Estados como Rio Grande do Sul e São Paulo, onde as condições de acesso à saúde e os padrões de educação e renda são mais elevados quando comparados aos estados das regiões Norte e Nordeste do país, demonstram tendência de redução da mortalidade para todas as faixas etárias”, comparam.
Estudo baseado no GBD que avalia a mortalidade por câncer no mundo, indicou que o câncer de próstata foi o câncer mais prevalente em 114 países em 2017, e a principal causa de morte por câncer, para homens em 56 países2.
No Brasil, medidas de rastreamento populacional não são recomendadas por políticas públicas e os exames diagnósticos são realizados sob demanda. “Sabe-se que o interesse espontâneo pelos serviços de saúde por parte da população masculina é baixo. Estudos indicam que em algumas partes do país, menos de 50% dos homens procuram atendimento médico. Quando isso acontece, o interesse se dá principalmente pela presença de sintomas já evidentes ou por necessidade urgente”, analisam os autores.
Em conclusão, as taxas de mortalidade por câncer de próstata no Brasil mostram tendência de estabilidade de 1990 a 2019 e nenhum padrão foi observado para as tendências segundo os estados brasileiros”, concluem os autores.
O estudo tem participação da Universidade do Sul de Santa Catarina, Universidade Federal de Goiás, Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade de Washington (Institute for Health Metrics and Evaluation).
Referências:
Iser DA, Cobalchini GR, Oliveira MM, Teixeira R, Malta DC, Naghavi M, Iser BPM. Prostate cancer mortality in Brazil 1990-2019: geographical distribution and trends. Rev Soc Bras Med Trop. 2022 Jan 28;55(suppl 1):e0277. doi: 10.1590/0037-8682-0277-2021. PMID: 35107530.
Global Burden of Disease Cancer Collaboration, Fitzmaurice C, Abate D, Abbasi N, Abbastabar H, Abd-Allah F, et al. Global, Regional, and National Cancer Incidence, Mortality, Years of Life Lost, Years Lived With Disability, and Disability-Adjusted Life-Years for 29 Cancer Groups, 1990 to 2017: A Systematic Analysis for the Global Burden of Disease Study. JAMA Oncol . 2019;5(12):1749-68.