Pacientes com carcinoma cervical neuroendócrino de alto grau em estágio inicial geralmente são submetidos à histerectomia radical com linfadenectomia pélvica seguida de radioterapia e/ou quimioterapia adjuvante. Para explorar o papel da cirurgia radical nessa população, estudo publicado no International Journal of Gynecologic Cancer buscou determinar a taxa de envolvimento parametrial e a taxa de envolvimento parametrial sem outras indicações de tratamento adjuvante nessas pacientes. Quem comenta é o cirurgião oncológico Reitan Ribeiro (foto), médico do Hospital Erasto Gaertner e do Instituto de Oncologia do Paraná (IOP).
Os pesquisadores avaliaram retrospectivamente as pacientes do Neuroendocrine Cervical Tumor Registry (NeCTuR) tratadas no MD Anderson Cancer Center para identificar aquelas com carcinoma cervical neuroendócrino de alto grau (estádio IA1-IB2, FIGO 2018) submetidas a cirurgia radical inicial com ou sem terapia adjuvante.
Cem pacientes preencheram os critérios de inclusão. A idade média foi de 35 anos (variação de 22-65), e 51% (51/100) apresentavam carcinoma neuroendócrino puro de alto grau. Nenhuma paciente apresentou tumor> 4 cm ou suspeita de doença parametrial ou nodal antes da cirurgia. Dez pacientes (10%) apresentaram comprometimento parametrial microscópico nas peças cirúrgicas finais.
Entre as participantes do estudo, noventa e quatro (94%) pacientes foram submetidas à avaliação nodal e 19 (19%) apresentaram linfonodos positivos. Dez pacientes foram submetidas a biópsia de linfonodo sentinela e linfadenectomia pélvica, e nenhuma apresentou resultados falso-negativos. Pacientes com comprometimento parametrial eram mais propensos a ter nódulos pélvicos positivos (80% vs 12%, p <0,0001) e uma margem vaginal positiva (20% vs 1%, p = 0,03).
Todas as pacientes com comprometimento parametrial tiveram invasão do espaço linfovascular (100% vs 73%, p = 0,10). Entre as 100 pacientes, 95 (95%) receberam terapia adjuvante recomendada. A radioterapia pélvica adjuvante reduziu a probabilidade de recorrência local em 62%.
“Em pacientes com carcinoma cervical neuroendócrino de alto grau cuidadosamente selecionadas, a taxa de envolvimento parametrial microscópico é de 10%. Como a maioria das pacientes recebe tratamento adjuvante, nossa hipótese é de que a histerectomia simples pode ser adequada quando seguida por radioterapia adjuvante com cisplatina e etoposídeo concomitantes, e posterior quimioterapia adicional”, concluíram os autores.
Segundo Ribeiro, embora os autores concluam que a baixa taxa de paramétrio comprometido associado à alta taxa de uso de radioterapia adjuvante possam indicar que o uso de histerectomia simples seja suficiente em casos selecionados de tumores neuroendócrinos, é preciso atentar para a falta de um grupo controle robusto. “Infelizmente, a raridade e a agressividade dos tumores neuroendócrinos do colo exigem cautela exta no uso de um tratamento conservador”, ressalta.
Referência: Salvo G, Ramalingam P, Flores Legarreta A, et al - Role of radical hysterectomy in patients with early-stage high-grade neuroendocrine cervical carcinoma: a NeCTuR study - International Journal of Gynecologic Cancer Published Online First: 09 February 2021. doi: 10.1136/ijgc-2020-002213