A Society for Integrative Oncology (SIO), em conjunto com a American Society of Clinical Oncology (ASCO), elaborou uma nova diretriz sobre como tratar com eficácia e segurança os sintomas e efeitos colaterais comuns do câncer usando abordagens de medicina integrativa, especialmente no controle da dor. O guideline foi publicado 19 de setembro no Jounal of Clinical Oncology (JCO). Ricardo Caponero (foto), oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, comenta as recomendações.
A dor é um desafio clínico para muitos pacientes e médicos envolvidos nos cuidados em câncer e há um crescente corpo de evidências mostrando que as terapias integrativas podem ser úteis no controle da dor. Para estabelecer as diretrizes da SIO e da ASCO, um painel de especialistas revisou as evidências existentes e avaliou a qualidade dos estudos, priorizando recomendações baseadas na força das evidências disponíveis.
De acordo com as diretrizes, a acupuntura deve ser oferecida a pacientes com câncer de mama com dores nas articulações relacionadas ao uso de inibidores de aromatase. “Como havia evidências moderadamente fortes apoiando sua eficácia e seu baixo risco de dano, o painel de especialistas também recomendou acupuntura para dor geral do câncer ou dor musculoesquelética, bem como para neuropatia periférica induzida por quimioterapia”, descrevem os autores. O guideline também considera que práticas como a reflexologia ou acupressão podem ser recomendadas para dor geral do câncer ou dor musculoesquelética, assim como recomenda a hipnose em casos específicos.
A diretriz também recomenda o uso de massoterapia para pacientes que estão com dor e são assistidos em cuidados paliativos ou hospices.” Ao mostrar as evidências crescentes, esperamos que os sistemas de saúde comecem a contratar esses profissionais e os sistemas de seguro comecem a cobrir esses tratamentos, porque cada vez mais eles estão se mostrando eficazes no controle da dor do câncer”, destaca Eduardo Bruera, do MD Anderson Cancer Center, representando a ASCO.
O painel de especialistas foi conservador em suas recomendações e lembrou que diferentes abordagens identificadas como potencialmente relevantes para o tratamento do câncer ainda precisam de mais pesquisas. “Esta é a primeira de três diretrizes baseadas em evidências que a SIO e a ASCO estão desenvolvendo juntas para adultos com câncer, combinando os pontos fortes dessas duas organizações”, acrescentou Linda E. Carlson, presidente da SIO. “O objetivo é informar o maior número de médicos e pacientes sobre as evidências de terapias integrativas para apoiar os melhores resultados clínicos”, resumiu.
O oncologista Ricardo Caponero ressalta que o tratamento oncológico precisa ser, sempre, multidisciplinar para poder dar conta da multifatoriedade de eventos que afetam a qualidade de vida dos pacientes. “No controle de sintomas, em geral, os aspectos farmacológicos são apenas uma pequena parte do que se pode fazer para obter o máximo de alívio. Cuidados de enfermagem, fisioterapia, psicologia e demais áreas de atuação são sempre recomendadas. O plano de tratamento deve ser sempre integrado”, afirma. “Nesse aspecto se enquadram também as chamadas "práticas alternativas". Cabe lembrar que a acupuntura já é reconhecida como especialidade médica e tem papel comprovado no tratamento da dor de diversas causas, inclusive a dor associada ao câncer”, observa.
Para Caponero, o grande problema das práticas integrativas continua sendo a qualificação dos procedimentos (todos no mesmo balaio), e a qualidade das evidências científicas. “Mas as evidências aos poucos estão crescendo e beneficiando nossos pacientes. A atualização das recomendações pela American Society of Clinical Oncology (ASCO) são um passo muito favorável. Agora precisamos conseguir qualidade e remuneração adequada para essas práticas”, conclui.
Referência: Mao, J.J., et al. (2022) Integrative Medicine for Pain Management in Oncology: Society for Integrative Oncology–ASCO Guideline. Journal of Clinical Oncology. doi.org/10.1200/JCO.22.01357.