Estudo multicêntrico demonstrou que o composto KBU2046 foi capaz de inibir a motilidade em modelos celulares humanos de câncer de mama, próstata, pulmão e cólon in vitro. Os resultados da estratégia inédita foram publicados na Nature Communications e mostram que é possível impedir o movimento das células cancerígenas e, assim, evitar que elas se espalhem para outros sítios. "O processo de metastatização é uma das características fundamentais do câncer. Desenvolver novas terapias capazes de bloquear a mobilização celular abre caminho para mais uma classe de drogas inovadoras", afirma o oncologista Marcelo Cruz (foto), que trabalhou como pesquisador na Northwestern University e está retornando ao país como membro titular do Centro de Oncologia do Hospital Sirio-Libanês.
Apesar do conhecimento de que o aumento da motilidade das células cancerígenas impulsiona o desenvolvimento de metástases, responsáveis por grande parte das mortes relacionadas ao câncer, a pesquisa sobre o câncer se concentra em encontrar formas mais eficientes de combater tumores, e não na capacidade de inibir a propagação das células cancerígenas. “Até o momento, ninguém desenvolveu uma terapia que possa impedir as células cancerígenas de se movimentarem pelo corpo, o que torna essa uma estratégia inédita”, disse Raymond Bergan, chefe de Divisão de Hematologia e Oncologia Médica, professor de medicina na Oregon Health & Science University (OHSU) e primeiro autor do estudo.
O estudo do movimento de células cancerosas, ou motilidade, tem sido o foco da pesquisa do grupo de Bergan há vários anos. Em 2011, ele e sua equipe adotaram uma nova abordagem, trabalhando com químicos para descobrir uma droga que fosse capaz de inibir o movimento de células cancerígenas.
Karl Scheidt, diretor do Northwestern Center for Molecular Innovation and Drug Discovery e professor de Farmacologia e Química na Northwestern University, foi um dos responsáveis pelo projeto e criação das novas moléculas avaliadas pela equipe de Bergan. Scheidt explica que através de abordagens de síntese química foi possível acessar novos compostos que minimizavam a motilidade em células tumorais, com poucos efeitos colaterais e toxicidade muito baixa. “Criamos uma maneira inteiramente nova de potencialmente controlar a disseminação do câncer", diz.
O KBU2046 funciona interagindo com proteínas de choque térmico, que desempenham um papel importante na função celular e podem ajudar a protegê-las da degradação. O composto desenvolvido pela equipe se liga de forma específica à ação dessas proteínas para que elas possam impedir a motilidade celular, com poucos efeitos colaterais e baixa toxicidade.
A expectativa é que os testes do novo composto em humanos levem aconteçam em aproximadamente dois anos. O custo estimado para o financiamento da pesquisa é de US$ 5 milhões.
Referência: Precision therapeutic targeting of human cancer cell motility - Raymond Bergan et al - Nature Communications volume 9, Article number: 2454 (2018)