Caitlin C Murphy, da Escola de Saúde Pública da Universidade do Texas, é primeira autora de estudo que discute obesidade na gravidez e risco futuro de câncer colorretal na idade adulta entre os nascidos vivos. “Nossos resultados sugerem que eventos intra-útero são fatores de risco importantes para o câncer colorretal e podem contribuir para aumentar as taxas de incidência em adultos jovens”, conclui o estudo, em análise publicada 23 de agosto na Gut. Quem analisa os resultados é Dan Waitzberg (foto), professor associado do departamento de gastroenterologia da FMUSP e diretor científico da Bioma4me.
O câncer colorretal (CCR) é uma das principais causas de morte relacionada ao câncer em todo o mundo. A obesidade é um fator de risco bem estabelecido para o CCR e os resultados de Murphy et al. indicam que as origens fetais ou de desenvolvimento da obesidade podem estar na base de seu efeito sobre o câncer na idade adulta. “Nós examinamos associações de obesidade materna, ganho de peso na gravidez, peso ao nascer e CCR em filhos adultos”, resumem os autores.
Neste estudo, os pesquisadores avaliaram prospectivamente uma coorte de mulheres que recebeu cuidados pré-natais entre 1959 e 1966 em Oakland, Califórnia e dados dos nascidos vivos (N = 18.751 nascidos vivos e 14.507 mães). As informações clínicas foram extraídas dos prontuários médicos das mães 6 meses antes da gravidez até o parto. Os diagnósticos de CCR em filhos adultos (idade ≥18 anos) foram verificados até 2019 por meio de vínculo com o Registro de Câncer da Califórnia.
Resultados
Da coorte avaliada, os autores descrevem que 68 filhos foram diagnosticados com CCR em 738.048 pessoas-ano de acompanhamento; e metade (48,5%) foi diagnosticada com menos de 50 anos de idade. A obesidade materna (≥30 kg / m2) foi consistentemente associada com o aumento do risco de CCR na prole (aHR 2,51, IC 95% 1,05 a 6,02). O ganho de peso total modificou a associação da taxa de ganho de peso inicial (RERI −4,37, IC 95% −9,49 a 0,76), sugerindo que o crescimento do início ao fim da gravidez aumenta o risco. Houve associação elevada com o peso ao nascer (≥4000 g: aHR 1,95, IC 95% 0,8 a 4,38).
“Nossos resultados sugerem que eventos in utero são importantes fatores de risco para CCR e podem contribuir para aumentar as taxas de incidência em adultos jovens”, destacam os autores.
Murphy e colegas reforçam que em uma coorte de base populacional envolvendo mais de 18.000 díades mãe-filho, a obesidade materna aumentou o risco de CCR em filhos adultos. Metade dos casos foi diagnosticada com menos de 50 anos de idade. “A obesidade materna mais que dobrou o risco de CCR na prole, sugerindo que a relação bem estabelecida entre obesidade e CCR pode ter origens em períodos que começam antes do nascimento”, analisam.
Para Waitzberg, o interesse dos achados se devem à obesidade materna ser uma epidemia mundial. "Obesidade materna, assim como a ingestão de dieta rica em gordura, já foram associadas a efeitos negativos sobre a programação fetal, predispondo os filhos a futuras doenças cardiometabólicas e no desenvolvimento neural. Vários mecanismos foram aventados como modificações epigenéticas, expressão de microRNA, microbiota intestinal, transcriptoma, entre outros. "A nova constatação da associação entre obesidade materna e câncer colorretal reforça os achados anteriores sobre a programação fetal e os amplifica em termos de gravidade e saúde pública", conclui.
A íntegra do estudo está disponível, em acesso aberto: https://gut.bmj.com/content/early/2021/08/12/gutjnl-2021-325001
Referência: Murphy CC, Cirillo PM, Krigbaum NY, et al - Maternal obesity, pregnancy weight gain, and birth weight and risk of colorectal cancer - Gut - Published Online First: 24 August 2021. doi: 10.1136/gutjnl-2021-325001